21.9.08

O QUE FICA...?

O que fica do corpo
sem a lâmpada acesa
na mesa grande e farta da ilusão?
O vulto escuro
contra parede escura,
alvura de novelos
tricotando asas,
volúpia de veludo verde-negro.
E a voz por toda a casa
a refazer o choro, o grito,
a oração maior que o abandono.
Suspenso, garrotado, exposto
à avidez da turba,
o que fica do corpo?


Licínia Quitério

Música: Maria Callas

19 comentários:

Joana Roque Lino disse...

O que não tem matéria, o que não se vê. Um beijo.

Justine disse...

Fica-nos a compaixão e a compreensão.
E também o gosto de ter acompanhado a poeta na génese do poema, esculpido com saber e sensibilidade:))
Beijo amigo

Anónimo disse...

Olá
O que fica do corpo ... nada
O que fica são os olhares para o longe e lá se vêm mares onde se cruzam veleiros nas rotas do infinito.

J.A.

A Lusitânia disse...

ficam as palavras, o rosto que a tua poesia denuncia
outros luares nos cruzarão ....

M. disse...

Talvez a alma, se formos capazes de a encontrar.

M. disse...

Voltei para dizer que este poema e fotografia são de enorme beleza.

batista disse...

quando não se tem a percepção quão ilusória do corpo, quanto se sofre! – mas, mesmo depois dessa percepção, quando

“... a voz por toda a casa
a refazer o choro, o grito...”

como é difícil aceitar que por um tempo não se terá o carinho do afago, do beijo, do abraço, do simples olhar de ternura...

no teu Poema, Licínia, quantas possibilidades de (re)criação!?

um beijo fraterno.

Graça Pires disse...

As tuas palavras. O teu jeito de dizer: alvura de novelos
tricotando asas.
Belíssimo poema. Um beijo Licínia.

maria josé quintela disse...

talvez a memória da pele


e cinza...




belo poema e ilustração!



um beijo licínia

Gervásio Leonel disse...

Martirizados os nossos corpos pelo cutelo do amor, nova vida do nada surgiu. "E a voz por toda a casa a refazer o choro" será a do filho, meu e da Mafalda, que ansiosamente esperamos.

Contamos com a poetisa, que muito admiramos, para cantar o amor que arde nos nossos peitos.

Ficamos à espera da sua visita aos nossos blogues.

Com os melhores cumprimentos.

hfm disse...

Em boa companhia - palavras, música, imagem.

M. disse...

O teu "Apontamento" de 16 de Setembro é belíssimo.

CNS disse...

Talvez as sombras que ainda nos restam no olhar. Lindo.

Manuel Veiga disse...

tavez o simulacro. apenas!

a tua qualidade. vibrante e sensível.

bejos

mundo azul disse...

O próprio corpo é uma ilusão, já que acaba um dia...


Gostei! Gostei muito do seu reflexivo poema...


Beijos de luz e um dia feliz!!!

Alberto Oliveira disse...

... quando olhei para a imagem, lembrei-me de imediato de outra (embora diferente) de um sítio -que por acaso até conheces, de onde acabei de vir agora mesmo. Onde se escrevia sobre a "roupa sem corpo"... ou era do "corpo sem roupa"?. Não interessa. Que eu até como sou um sujeito com um palminho de testa, percebi que a dita imagem e o texto que se lhe colava era sobre a voz da Callas e de um vestido que ela uma vez viu numa montra em Palermo quando ainda era pobrezinha, assim a modos como o nosso Cristiano, percebes?
Mas vamos ao que interessa, ou seja, ler o teu post


oh pá!! mas é sobre a Callas!?

(querem ver que ainda não saí do outro sítio e armado em cão com pulgas penso que estou a comentar a Licínia?! Vou lá fora apanhar ar... )

mena maya disse...

O corpo não é ele próprio o manequim de costura, que usamos para provar os sucessos e as desilusões da vida?

Beijinho

© Maria Manuel disse...

fica o real vivido. e o que conseguirmos fazer com ele.

bettips disse...

Perfeita, Licínia.
Os despojos da vida.
Algum amor com que ouvimos e olhamos.
A ti, te lemos!

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