17.10.08

FORAM OS CORPOS










Foram os corpos desenhos de caminhos
traçados no labor dos dias úteis
em vermelhas praias calorosas
em lívidas luas friorentas.
Aprumados cresceram entre penhascos e lonjuras
atentos sempre à inclinação das noites.
Com versos brancos na língua incendiados
acrescentaram pele a outra pele.
Depois veio o deserto e os corpos
aprenderam novas sedes
já não de águas correntes
mas de estrelas.
Do deserto ao dilúvio foi um palmo de vida
e então os corpos se fizeram casco
se fizeram vela e navegaram.
Não se perderam.
Eram eles o mapa da viagem.

Licínia Quitério


Música: Wim Mertens

NOTA: Vou estar ausente por um curto período. Voltarei com novo fôlego, espero. Entretanto, desejo-vos bons tempos e boas publicações. E deixo beijos.
Licínia

18 comentários:

bettips disse...

É verdadeiramente e aqui, que me sento, relaxada de sorrir,
diria - se fosse religiosa - beatificamente.
Beata-a-mente, santificada e angelical a voz que trazes. Mesmo quando a violência e o abandono a tocam.
Bjinho

M. disse...

Poderoso, Licínia. É o que sei dizer.

Maria Carvalhosa disse...

Gosto muito. Tu sabes disso.
Bjs.

Maria disse...

Soberbo! Sem mais palavras...

Um beijo

A Lusitânia disse...

e as árvores se fizeram palavras, com o corpo do sonho.

maria josé quintela disse...

palavras



tatuadas



na pele.



.
um beijo licínia.

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

talento em palavras e imagens

Beij

vida de vidro disse...

Como gosto de te ler nesse sentido das palavras e da vida! Belo. **

Marinha de Allegue disse...

Armoniosa composición...

Beijinhossss poetisa mafrense.
;)

Alberto Oliveira disse...

... do Cabo Dorso até ao Mar dos Artelhos que viagem deuses! E ao largo da cidade de Maxila a calmaria que se pôs que as velas não atavam nem desatavam? Mas o pior estava para vir quando os ventos Zigomáticos se levantaram próximo do Oceano Malar a escassas milhas da capital do Torax...

Excerto do diário de bordo da Nau Coronária VII em viagem de circum-navegação. Dezembro do ano da graça de 1551.

batista disse...

há poema que me deixa quieto, quieto. depois, releio, tresleio e deixo que me leve por caminhos conhecidos ou por conhecer. teu poema: mapa para o infinito.

comovido, deixo um abraço fraterno.

Rodrigo Fernandes (ex Rodrigo Rodrigues) disse...

Perfeito, maravilhoso, inspirado.

Vou-to pedir de empréstimo para o expor no meu site e expandi-o em prosaica prosa. Estou a pedir-to, aliás.

Manuel Veiga disse...

"Do deserto ao dilúvio foi um palmo de vida"

- sigo as linhas do "mapa" que tão desenhas. e suspendo-me. nesses passos.

adorei, Licinia. grato pela emoção.

beijos

Graça Pires disse...

Os corpos atentos à inclinação das noites. Aprendendo novas sedes. Fazendo-se navegadores e mapa de viagem... Excelente Licínia.
Um beijo.

Justine disse...

E nos corpos encontramos o universo, ou tudo o que procuramos fora deles.
Belíssimamente desenhado, este mapa. Não nos perderemos!

© Maria Manuel disse...

um mapa da humanidade

jorge esteves disse...

As palavras desenham mapas, parábolas e sinfonias. Mesmo que cantatas de uma nota sofrida...
Gosto muito das tuas palavras!

abraços!

Ad astra disse...

espero a volta, para continuar a ler-te

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