Atravessamos oceanos de palavras que nunca escreveremos. Navegamos, perdidos no fulgor dos pássaros dos trópicos. Dolorosamente trepamos pelas palavras dum irmão desconhecido. Morremos de cansaço à beira do jardim. Ressuscitamos pelo orvalho que um dia lemos nos olhos cegos da deusa de pedra que nos ensinou os frutos do despertar. Como árvores de uma única estação, guardamos a memória dum lugar em que nos despíamos e vestíamos ao som dos tambores e das flautas, entontecidos pela dança das estátuas que rodopiavam. Assim mitigávamos a grande sede. Bendita sede da última estação.
Licínia Quitério
13 comentários:
Bendita. Bendito texto.
Imagens de uma enorme beleza que nos ficam a dançar na cabeça "ao som dos tambores e das flautas".
Obrigada!
e , é verdade , » Morremos de cansaço a beira dum jardim» de sede , da imensa sede, apesar dos oceanos e do mar. Temos sede !
gostei de te ler ... Muito !
Gosto sempre!
beijo Para ti , POETA !
_________ JRMARTO
Ritual pagão - a que nos devíamos entregar, às vezes.
Perdida a ilusão do "eu sou".
Dizer "eu não sou" e descalçarmo-nos na erva (esquecemo-nos? não tivemos tempo?)
Bj
E assim mitigamos a sede...beijos.
E assim nos saciamos
de memórias
Bendita a sede do belo, que te faz escrever assim. Que me faz parar a ler-te, saciada.
esplendoroso texto! esplendorosa imagem.
um beijo, grande Poetisa!
bendita a sede. que nos faz caminhar. e subir pelas palavras adentro...
belíssimo texto.
beijos
Olá Licínia, bom dia.
Belíssimos todos estes Poemas últimos, aliás, como sempre.
Só que uns nos tocam mais que outros...
E estes seus últimos, tocam-me profundamente.
Obrigada Amiga, pela partilha.
Um beijo enorme e emocionado da
Maria Mamede
Bendita a sede que nos fai buscar e medrar...
Unha aperta grande Licínia.
:)
Tempo pagão de nós em nós a acordar abismos.
E morremos de sede, ainda que saciadas.
Abraço
Bendita sede da última estação... que palavras belas e tão verdadeiras!
Um abraço
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