30.4.10

LEMBRANÇAS DE UM MAIO

O dia veio e a cor brotou.
Vermelho, sim, como as papoilas
e os lábios quentes das mulheres
e o canto livre que de outra cor
não se fazia.
Vermelhas as roupagens
da liberdade que soava
e punha mãos em mãos
que não se conheciam.
Tão doce o amor nascido
de gestos improváveis
e olhares incendiados
como nunca se vira.
Nome não teve a festa
porque sem nome é tudo
o que é maior que o sonho.
Havia sede, uma sede imparável
e a água se oferecia
que tudo era sem preço nesse dia.
Cravos vermelhos  havia
nas portas e nos braços 
dos rapazes que sorriam
perdido o medo da alegria.
Era um clamor de passos
uma batida que ecoava
na quentura dos ares
e entontecia.
Era um rio de pássaros
de asas vermelhas
como o riso das moças.
E os poetas não pararam de dizer
a urgência da palavra
há tanto encarcerada e agora aberta,
inteira e ousada.
Ela também vermelha como o dia.

Licinia Quitério

11 comentários:

Alien8 disse...

Sim, o Maio do nosso contentamento, e muitíssimo bem descrito, poetizado, cantado, pintado.

E ousaria dizer que o merecemos.

Um abraço.

Maria disse...

Belíssimo retrato de um Maio já vivido.
Daqui a pouco viveremos outro. Diferente, muito diferente, mas igualmente Vermelho!

Um beijo, Licínia.

Justine disse...

Fulgurante pintura fizeste da emoção do dia há 36 anos, e que ainda vibra dentro de mim!
Beijo

Aníbal Duarte Raposo disse...

Licínia,

O primeiro de Maio do nosso encantamento.

Escrevi também hoje sobre o mesmo tema.

Beijos

Joaquim do Carmo disse...

Grito vibrante e expressivo do ar que se respirava nesse já "demasiado distante" 1º de Maio! Parabéns!
Beijo grato pela sua visita e comentário

M. disse...

Gosto muito, Licínia. Porque falas das coisas e dos momentos da vida com a beleza que eles têm e merecem. Assim pensamos melhor. É que o rosnar cansa os ouvidos e mata a alma...

© Maria Manuel disse...

bela homenagem a um tempo de grande importância histórica no nosso país (também li as tuas belas evocações do tempo anterior, a tua generosa partilha no teu post sobre Abril). belo o vermelho que perpassa pelo teu poema, e os pássaros que voam por entre as palavras.

beijinho, Licínia.

Alberto Oliveira disse...

... parece que foi ontem, tal a memória que tenho desse dia diferente de todos os outros dias que até então tinha vivido...

luís filipe pereira disse...

Poema belíssimo,

excepcional evocação do vermelhecer da palavra,
da poesia,
da esperança saciada à boca do sonho

com admiração,

luís filipe pereira

hfm disse...

Até breve. Um beijo.

Graça Pires disse...

"Maio maduro Maio"...
Maio da nossa memória feliz. Maio da nossa esperança. Maio de todos os sonhos.
Um belo poema, Licínia.
Um beijo.

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