28.9.10

SÓ AS ÁGUAS



Só as águas me acalmam. Águas frias
dos deuses regressados da loucura.
Nelas mergulho as mãos ao encontro
dos peixes da alegria. Com elas vão
os olhos e as imagens daqueles dias
em que o dia foi de todos. Antes
do saque da cidade. Antes dos muros.
Antes de nos venderem o medo de ter medo
e as sete chaves para fechar o coração.


As águas me darão o santo e a senha,
o novo abre-te sésamo das portas
da abundância repartida, do amor
de mão em mão, da claridade.

No hoje espero, as mãos na água,
e com elas os olhos e os pés bem firmes
na brancura das pedras que restaram.




Licínia Quitério




15 comentários:

Justine disse...

Belíssima, Licínia, esta metáfora da esperança!
Mergulhemos então as mãos,todos!
Um beijo

hfm disse...

Do melhor, Lícinia. Um grande beijo.

© Maria Manuel disse...

águas primordiais, dum tempo de inocência, do tempo do paraíso perdido que tão esperançosamente recuperas para uma claridade presente. belo, Licínia. beijo.

Lídia Borges disse...

As águas onde as mãos mergulham em busca da inocência de um tempo anterior à mácula do tempo.

Para ler e reler!

Um beijo

Graça Pires disse...

Licínia, é um poema maravilhoso. Sim só as águas nos acalmam. Principalmete quando a sede e o calor nos fazem desejar a inocência...
Um grande beijo.

Nilson Barcelli disse...

A água é um referencial de estabilidade.
E o teu poema é excelente.
Beijos.

José Carlos Brandão disse...

Li ontem este poema. Nem disse nada. Ele se basta, denso. Com calma, suavidade, na superfície, como se não fosse, ao mesmo tempo, profundo.
Um braço amigo.

José Leite disse...

Poema glacial, mas sublime... como o mármore de Carrara!

Mar Arável disse...

Belo

Que assim seja poeta

BJ

M. disse...

Gosto muito, Licínia.

Benó disse...

Vim visitar este sítio. Passeio vagarosamente os meus olhos por estas águas, banho-me nelas e gosto da sensação.
Espero ter os pés bem asentes nas pedras que nos restarem.
Um abraço amigo.

Alberto Oliveira disse...

que loucura que bom seria!
mergulhar as mãos nas águas
e encontrar peixes d´alegria.
lá se esfumavam minhas mágoas

seria festa dobrada
e uma rica caldeirada.

Manuel Veiga disse...

matricial a água. em seu "santo e senha". que tu, "oficiante" da Poesia, administras com Sabedoria e talento...

beijos

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

Licinia

gostei do poema, gostei da imagem, em perfeita sintonia.

beij

BeatriceMar disse...

um poema excelente!

beijo

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