30.10.10

TU SABES



Dizes que muito sabes quando te sentas na praia
e silente enfrentas céu e água e com eles relembras
artes de voar e marear como se fosses peixe
como se fosses pássaro. Conheces os fundos
das cavernas e a textura das algas que nomeias.
Já foste mastro e vela no tempo em que aprendeste
o odor e a cor dos ventos. Ouviste vozes que só
podiam vir de novas gentes. Partiste e foste  casco
e abrigo de vontades, de ousadias. Foi a estrada
do mundo mulher nova que se abriu ao teu desejo
secular de possuir a terra e a fecundar. Gravaste
a ferro e sangue sinais de amor e dor nos campos
da conquista temerária. Sempre voltaste à praia
da saudade para entregar o oiro e as cicatrizes.
A mesma praia onde agora te sentas e entranças
memórias e acenas aos barcos e às gaivotas.
Perdido o oiro e o rumo, as terras saqueadas,
vais fingindo esperar o nevoeiro que não virá,
tu sabes.
Continuarás, imóvel, a inventar um sonho
possível como todos os sonhos, tu sabes.


Licínia Quitério

Respondendo a perguntas de alguns meus queridos comentadores, esclareço que todas as fotos que publico são minhas, salvo indicação em contrário. Sou assim a única responsável pela ousadia. Obrigada a todos.

Licínia

7 comentários:

utopia das palavras disse...

Inventar os sonhos possíveis é acreditar no horizonte!

Beijos :)

Maria disse...

E tem de ser pelo sonho que vamos. E havemos de chegar!
Volto sempre à praia da saudade em busca do sonho. E encontro-o sempre, no rebentar de cada onda, na espuma de amar sobre a areia.

Beijo, Licínia.

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

um poema que me toca profundamente,porque está muito bem escrito e também fala do mar.

a foto que julgo ser tua é um bonito complemento.

um beij

Justine disse...

Fizeram-nos perder o rumo, mas não a mamória,não o desejo. Virá o tempo em que voltaremos a ter coragem de partir e realizar o sonho.
Tu o dizes, amiga, com o fulgor, a elegância e a exactidão de uma grande poetisa.
Abraços

Alien8 disse...

O poema e a foto são magníficos, tu sabes!

Graça Pires disse...

Tu sabes que sempre um sonho nos arrasta. E sabes que em cada olhar existe a paisagem que quisermos...
Um belo poema!
Um beijo, Licínia.

Manuel Veiga disse...

renovemos o sonho. na cor do vento.
sempre.

(este poema, minha amiga, vou levar comigo)

sublime.

beijos

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