4.2.11

UMA COR

Uma cor vibrante, uma cor galante,
uma cor estridente, uma cor diferente,
uma cor suave.
Grave é não ter cor ou supor
que se mente quando se diz: 
a cor do amor é a cor do mar.
Do mar de amar,
do mal de amar, da dor
de não saber
o sabor de ter
um castelo de cor
ali ao pé, ali ao peito, 
no jeito transparente
de cada amanhecer.


O meu amigo tem olhos da cor do fim de tarde, envolta em cheiro de rosmaninho e em doçura de velos de cordeiros.
A voz do meu amigo é da cor do canto dos riachos de margens muito antigas, polvilhadas de amoras e silêncios.
A pele do meu amigo é da cor da ardência do deserto e do arrepio da tundra.
O sangue do meu amigo tem a cor dos sonhos dos homens, das estrelas moventes, não cadentes, da respiração dos escravos, ao longe.


Uma cor, duas cores, sete cores, até ao pote de ouro, ao coração da terra, ao bicho cego, ao prenúncio do verde.
Uma cor, uma só cor, a maior, a mais serena de todas as cores, aqui à mão, aqui ao peito.
Uma bandeira contra o negro.


Pobre de quem não sabe
a cor do amor,
igual ao mar
de amar.


Licínia Quitério

10 comentários:

Justine disse...

Como é bom ler este jogo inteligente de palavras,este "cantar de amigo" comovente, esta sabedoria das coisas importantes da vida.
Que bom ler-te!

hfm disse...

Pobre mesmo, Lícinia. Um poema de cortar a respiração e, como diz a Justine com um inteligente jogo de palavras.

Lídia Borges disse...

Gosta-se daqui! Pelas cores, pelos sons, pelos tons...
Pela arte no lapidar da palavra.

Um beijo

Manuel Veiga disse...

torrencial e belo. com todas as cores do arco-iris...

... contra o negro!
que das palavras fazes bandeira!

beijos.

Graça Pires disse...

O teu poema tem todas as cores onde incide a luz do amor e do mar.
Gostei muito do poema. O meu próximo livro tem a ver com as cores (Sai em Março).
Um grande beijo Licínia.

José Leite disse...

Minha cara amiga:

Magnífica esta seara de palavras, esta brisa avassaladora e geradora de emoções.

A mestria no pódio da poesia!

Maria Carvalhosa disse...

Uma cor... o amor. Um arco-íris de palavras que combinam e, nessa conjugação, baralham-nos o sentir, ou a razão, até que o pote de ouro, num sortilégio, tudo recompõe: a cor do amor é a cor do mar!-? (não, o mar tem a cor do amor... será assim?)
Sempre magnífica a tua escrita, Amiga.

Alien8 disse...

Lindíssimo, este como o anterior, Licínia. A tua poesia é bela e certeira, e tem realmente todas as cores e, diria, todos os nomes...

Um abraço.

bettips disse...

... também lembrei D. Dinis, a cadência. Porque se ama sempre e há tanto tempo.
Belo o arco-íris das emoções que vamos sentindo e
como o dizes
erguendo a bandeira da palavra doce
contra o negro desânimo.
Bjinho

M. disse...

Quem dera todos sentissem assim a vida.

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