Um esboço, uma pegada, um trilho.
Escada de corda das nossas emoções,
bamboleante vertigem do nosso atrevimento.
Assim se abrem os dias de subir as ruas,
de cumprir as tarefas maiores que as nossas mãos,
de aceitar as árvores cortadas,
os olhos dos velhos, aguados,
a raiva dos despojados,
o silêncio dos culpados,
o ranger dos ossos.
Há ainda um pássaro sobrante
no susto da falésia e notícias
de ramos coloridos nas auroras de gelo.
Um passo e outro passo,
o coração no vento, uma voz alheia na garganta.
A escalada da rua, a construção do dia,
a sagração da vida.
Tudo, ainda.
Licínia Quitério
7 comentários:
"Tudo, ainda" - que fantástico grito de fúria e de força e de esperança!
Grande poema, este "esboço" que é uma cicatriz...
"A escalada da rua, a construção do dia,
a sagração da vida.
Tudo, ainda."
Um poema todo ele perfeito e a tocar a alma...
Um beijo, Licínia.
Há ainda o sonho
limpo
Um esboço apenas este tempo imperfeito. Por outro lado há tempo de o transformar, de o aperfeiçoar.
De aperfeiçoamento não necessita este belo poema.
Um beijo
importa continuar, ainda que os passos se arrastem. e os dedos queimem
belíssimo, sempre.
beijos
Será a vida um esboço permanente, sim, e cada um de nós o artista que se deseja seja capaz de fazer com ele a obra de arte da sua existência. Depois, o mundo será um misto de pintura, música, escultura, amor universal.
Bonita a imagem que escolheste para este post. O poema está engraçado. Mil beijinhos fofinhos,fica bem querida.
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