25.10.11

POSSO ESCREVER


Posso escrever sobre coisas banais e dizer
que me bateram à porta quase noite e não
abri receosa de saber quem batia. Posso
escrever sobre grandes causas e afirmar
que as inventei e daí me veio a obrigação
de as defender. Posso, é bem claro, escrever
sobre os desgostos de pessoas tão iguais
a mim, tão iguais. Sobre milhões de coisas
e de causas e de pessoas à janela dos dias
do oiro, dos dias do chumbo, dos dias da raiva,
dos dias do amor. Posso escrever até ao dia
das janelas abertas, das coisas claras, das causas
maiores, das pessoas que me batem à porta
de manhã e eu abro sem medo de saber
quem bateu. 
O dia será em que tudo foi escrito.

Licínia Quitério
.

7 comentários:

Mar Arável disse...

Tens razão mas não basta

a poesia exceleste que partilhas

tem de considerar o tempo da caça

Os Coelhos andam por aí

Perdoa o desaforo

Bjs

M. disse...

Quase bíblico. A simplicidade e a complexidade da existência.

© Maria Manuel disse...

são tantas as coisas... e é sempre tanta a tua sensibilidade e atenção ao que te rodeia, é a poesia tua voz no mundo.

beijo, Licínia!

Manuel Veiga disse...

"o dia claro e límpido" que tão bem (e também) desenhas em palavras belas.

beijo grato. pela emoçãozinha.

Alien8 disse...

Licínia,

Um toque brechtiano! - ou imaginei coisas :)
Seja como for, muito bom!

Abraço.

Justine disse...

O dia será, poetisa!
Que a poesia nos vá dando alento...

bettips disse...

Podes escrever TUDO. Sobre o amor, a raiva, a glória, o lugar.
É sempre,
como dizer,
uma mágoa;
mas alta, positiva,
de ler-te viva!
Bj

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