8.11.11

AH QUE BONITO


Ah que bonito este país todo mar todo
azul todo saudade e fado e poetas e
mercadores que vão da índia às índias
e voltam com dentes de oiro no sítio
do sorriso ou não voltam e morrem por lá
pelas áfricas e brasis e américas várias
com a bandeira à tiracolo e uma dor no
peito. Todos tão semelhantes tão pintados
de espanto tão navalha na boca e coração
de pomba. Ei-los que partem heróis dos mares
e dos caroços das europas frutuosas.
Ah este país a entornar passado a despejar
os galos de barcelos a inventar provérbios
e um jeito antigo de encolher os ombros
e dizer que não há-de ser nada
que havemos de fazer eu volto logo
cuidado com os miúdos.

As mãos dos loucos ficaram para trás
e escalam as paredes e deixam manchas
marcas signos anúncios proclamações
de desespero futuro.

Frio é o sol nos abismos de verde.


Licínia Quitério


10 comentários:

Mar Arável disse...

Ei-los que partem

sábios e mudos

só até dia 24

Bjs tantos

Anónimo disse...

Gostei das palavras, do sentido, das cores...
Gostei mesmo muito.
AIDA

George Sand disse...

Mea culpa...que não conhecia este canto de palavras.

Lídia Borges disse...

Uma espécie de ironia colorida cobrindo de sombra a razão. Um arco-íris que ilude.

L.B.

Justine disse...

Um país a repetir-se enquanto se desfaz, um povo a inventar a sobrevivência, uma minoria a destruir esperanças.
E tu, Poetisa, a retratar com colorida e irónica lucidez o que parece cinzento!

M disse...

Isso é que é brincar às coisas sérias! Ou será o contrário? Ou ambas?

© Maria Manuel disse...

gostei de te ler a cores, azul de mares e passados e sonhos ou crenças fáceis, vermelho de manchas e desesperos de sangue, verde do belo país natural que temos, mas que o sol teima em esfriar. cores da nação e toda uma ironia a percorrê-las. gostei!

beijo, Licínia.

bettips disse...

Há um tal encolher de ombros
que é frio; e mais: amargo.
Bonito é sorrir com amigos, em brincadeiras de "fado" ou "galos" que vamos tendo.
Bjinho

bettips disse...

Pronto, 'tá bem: mas esse era o Orlúndio que fala na tv, nas comixões de seguradoras e afins.
(brinco com o "galo-nosso").
Bj

Manuel Veiga disse...

talvez a ironia magoada ou a sátira certeira se façam - quem sabe? - sete partidas. cá dentro.

... um dia!

gostei muito. muito mesmo.

beijo

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