2.1.12

CLARISSE E OS ÁLBUNS




18. Ah como se lembra daquele inverno soalheiro de colher maresia e gritos de gaivotas e trazer tudo aconchegado para dentro do livro que começara a escrever há muito, muito tempo, quando ainda não sabia de desertos que nem de areias se povoam. Clarisse escalava rochedos e procurava ecos no côncavo das furnas. Inventava palavras para nomear o grande mar que para sempre lhe tingiu o olhar. Na velhice da foto, Clarisse reconhece o esplendor das ondas na sua posse faminta de mais mundos. Sentia-as tão próximo que chegava a pensar ser uma delas, assim violenta e poderosa, sequiosa e apaixonada. Talvez se possa ver, em contraluz, o contorno de um corpo, ou dois, abraçados, desafiando alturas e funduras. Barcos nem vê-los que a bravura do mar os não consente.   Uma fresta de inverno assim recolhida como uma alga ressequida entre papéis de recordar.


Licínia Quitério 

2 comentários:

Manuel Veiga disse...

com nitidez os ecos. e o espledor das ondas. e a beleza do sonho...

beijo

BOM ANO

M. disse...

Como uma fresta por onde olhamos o mundo. Assim os olhos se rasgam no rosto da memória.

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