14.7.12

BOM SERIA, POEMA

Bom seria mergulhar em ti, poema, inaugurar-te as águas na nascente, dar-te a sombra do meu corpo e o mais reluzente dos meus cálices. Devolver-te os segredos e os medos, a infinita ternura dos amados, a imparável vertigem dos amantes. Ondear na curva dos teus versos, dançar nos compassos  inesperados das vozes que te habitam. Arrasar-te as fronteiras, ser correnteza e margem e o tecido antes da margem, para além da margem. Bom seria, poema, possuir-te como macho  e ser na mesma noite a tua fêmea. Cravar-te imprecações em cada sílaba e afagar-te como mãe de última cria. Confundir com o leite dos meus olhos o sal do teu caminho. Atormentar-te, abençoar-te, como coisa amada e imperfeita, eternamente inacabada e ausente, na escuridão das florestas em que  vives, em que vivo. Bom seria, poema, beber-te as águas e partir contigo em busca da outra fonte.


Licínia Quitério   

7 comentários:

Justine disse...

É isso que os poetas, só os poetas, conseguem fazer!

Manuel Veiga disse...

agua da mais pura. em que apetece mergulhar...

cristalina. a tua poesia

beijo

Filoxera disse...

Bom foi ler este post.
Lindo, sentido, pujante.
Inspirador...
Beijinhos.

Cinderela disse...

Sabe, Licínia, quantas vezes venho aqui beber poemas,para afogar as minhas mágoas...?????


( e cada vez tenho mais sede)

Beijinho, querida Poeta

Mar Arável disse...

Água de beber

por entre os dedos

maria joão moreira disse...

Lindo... com este poema, tudo fica dito, não há mais nada a acrescentar. Obrigada!

Hanaé Pais disse...

Sem palavras! Muito, muito bom.
Com um ritmo, com vontade de ler mais e mais.

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