23.11.12

RUMOROSAS AS ASAS


Rumorosas as asas ou as mãos na palidez do rosto. Do meu rosto em frente à pedra, na lembrança viva da pedra, nas rosas de pedra antes vivas, latejantes, e o seu sangue quente atravessando-me os dias, do oriente ao ocaso.  Dias e noites trepidantes com a febre nas têmporas, um vidro vermelho no candeeiro, uma canção de embalar, as sombras, as sombras na parede. Um morcego, uma borboleta, as orelhas do coelho, as asas, altíssimas. As manchas no teto, os mapas dos países de ida e de volta, uma dor sem princípio, a pedra enegrecida pela fuligem que fica nas mãos quando um amor morre. Santas mãos, miraculosas, berços, catres, esquifes, doçura tanta, mágoa infinita, viandantes mãos sem corpo, no meu corpo de antes, no meu corpo presente, no meu corpo futuro, no meu copo, no teu copo, no nosso copo de todos os dias, agora e em todas as horas, vazio e pleno, ofertado e recusado. Só as mãos nos acodem, no negrume e na alvura, na cupidez e na devassa, na sede e na fome, no primeiro dia, no último dia. Sempre. 


Licínia Quitério

4 comentários:

Nilson Barcelli disse...


a pedra enegrecida pela fuligem que fica nas mãos quando um amor morre.

Excelente texto. Gostei muito das taus palavras.
Licínia, tem um bom fim de semana.
Beijo.

Justine disse...

As mãos, por onde a poesia passa e ganha forma...
Belíssimo texto, Licínia.
(e um dos teus poemas lá está no meu blog. Ainda publicarei mais dois dos meus preferidos!)
Beijo

Manuel Veiga disse...

belíssimo texto.

admirável talento o teu - tecedeira de palavras belas...

beijo

M. disse...

Belíssimos, texto e fotografia!

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