9.11.13

NADA DEMAIS



Nada demais, amigo. 
Tudo cabe nas nossas águas. 
Um retalho de céu não é maior 
que a página do livro onde o escrevemos. 
Miragens, dizes, e eu digo torres, 
tão altas, tão fundas, tão iguais 
ao giz com que as traçámos. 
Nas nossa águas, antes da noite, 
poderão nadar todos os peixes 
nascidos dos fios 
das conversas adiadas. 
Tudo cabe, tudo vive, tudo se move, 
nos mil andares de luzes e de sombras. 
Tal como as nossas mãos, 
nada se toca, nada se magoa, 
nada fere, nada queima, nada. 
Intacta a carne e o fogo 
que em vez de a devorar a alimenta. 
Tudo acontece na outra lâmina dos nossos lagos.

Licínia Quitério  

5 comentários:

bettips disse...

Do outro lado de nós, no céu nadam peixes e na água bóiam estrelas. Assim na tua poesia se entrelaçam sentires que nunca se vêem. Bjs

M. disse...

A arquitetura das palavras e do pensamento.

Benó disse...

Tudo pode acontecer, em poesia.Luz, sombra, gelo e fogo. Na tua poesia sentimos tudo isso. Bjs.

OUTONO disse...

...reflexos de palavras, leituras e pensamentos!

Manuel Veiga disse...

fogo que alimenta- como cinzel na pedra...

belíssimo.

beijo

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