16.1.14

AMAR UMA PEDRA


Amar uma pedra é descobrir-lhe o coração. Entender o respirar dos séculos, os traços, as cicatrizes. Não confundir beleza com tragédia. Saber os nomes do rei e do construtor. Contemplar colunas e os braços a erguê-las: as rendas e as feridas. Capitel como cabeça a altear o fuste e a suportar o tecto, o céu. Adivinhar a palpitação do homem, o poder do homem, a ousadia do homem, a miséria do homem. Ajoelhar se for preciso, beijar o chão da pedra, ouvir, vindas da terra, a humildade da pedra, a soberba do homem, o bater de um coração, que foi pedra, que foi homem.

Licínia Quitério

5 comentários:

Anónimo disse...

E, de repente, lembrei-me que este texto/ poema me vai servir, exemplarmente, para o 3º período, quando falar do episódio da epopeia da pedra no Memorial do convento.
Ibel

Aníbal Duarte Raposo disse...

Muito bom. Sinto-o em certas ocasiões quando visito monumentos antigos.
:)

Justine disse...

Belo! Inscrito em ti...

Graça Pires disse...

Sabemos que as pedras têm alma...
Um grande beijo e parabéns pela qualidade do texto.

Anónimo disse...

Sempre digo que as pedras falam, secas ou húmidas, como os olhos e as palavras. Aqui o sabes bem dizer.
Bjinho da bettips

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