23.3.14

QUANTAS VEZES


Quantas vezes passou já não se lembra.
De ponta a ponta foi se lhe pediram
uma côdea de pão ou uma sardinha
que nesse tempo se partia e não chegava.
Palmilhava os becos e decorava os passos
de curva a contracurva da rua que diziam
escondia lobisomens e outros homens.
Se alguma vez os viu e neles demorou
a frescura 
esqueceu
para apagar as nódoas da vergonha
a cor do asco e da gordura.
De tanto se esquecer já não pode afirmar
sem mentir que se mudou da rua ou talvez
ou talvez
a rua a esquecesse e os homens partissem
e só os lobos lembrem o seu corpo de pedra
a curvar a deitar a erguer 
e uma erva a nascer.

Licínia Quitério

3 comentários:

Mar Arável disse...

Não há muros intransponíveis

para o sonho

Bjs

Manuel Veiga disse...

a "insignificante" erva a redimir a ferocidade dos lobos...

belo.

beijo

Graça Pires disse...

"e uma erva a nascer" indiferente aos lobos e às pedras. É a esperança, amiga.
Um beijo e obrigada por este poema tão belo e sentido.

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