3.5.14

O ANÚNCIO


Isso foi no dia do anúncio, quando soubémos de ti porque era outra a música, toda feita de lava e de espuma, e os rosários passavam de mão em mão, tecendo a prece que se chamava Ganges ou Éfeso ou ladeira dos milagres, indistintos nomes de lugares indistintos, agora que a música nova os inundava e os rosários eram mesmo de rosas como antes não se vira, perfumadas, vivas. De esse dia pouco ainda se sabe, nem dos homens, nem das mulheres, nem dos frutos, nem das abelhas, nem dos trabalhos, se é que os houve nesse dia. Sabemos que outro haverá, que uma vez acontecido voltará,  conforme ao que foi, igual, o mesmo, porém, de tão distante, não o reconheceremos. Continuaremos, mansamente, a pousar o desejo nas mais altas pedras, a mão em pala sobre o olhar, pronunciando mares e caravelas.

Licínia Quitério  

2 comentários:

Paula Raposo disse...

Gosto sempre muito de te ler! Beijos.

Graça Pires disse...

Temos um presente a viver do passado porque o futuro nos assusta...
Um texto muito belo.
Beijo.

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