29.5.17

A PENUMBRA


São os dias da penumbra.
A luz escorrente nas vidraças,
um fio de memória
a desenhar as asas
da pomba da infância,
e com a pomba a mãe,
o olhar da mãe
a segurar o traço,
e o candeeiro.
Sim, havia um candeeiro
que se quebrou
na escassez da casa.
Foi quando a rua entrou
na história, 
muito depois da pomba,
muito depois da mãe.
A rua de Hopper
da cidade silenciosa,
uma mulher à janela
com um vestido vermelho,
um carro parado,
as chaminés sem fumo.
No céu um candeeiro
que o pintor não viu.
A pomba o levou no bico
e o suspendeu.
Tudo é possível nos dias
da penumbra
se uma mulher vestida
de vermelho
pensa na infância
e a desenha.

Licínia Quitério

1 comentário:

Clara disse...

Tão extraordinariamente bela,sempre, a sua Poesia!

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