4.8.21

O POÇO

 Na gola do poço as pedras

polidas pelos anos dos homens.

Curva contra curva, as pedras amparam

a coxa, a cintura, o bojo do ventre

de quem se abeira, se atreve, se inquieta.

Logo abaixo, no côncavo dos muros,

as avencas são o verde, a frescura,

o recorte miúdo da ternura.

Depois, a escuridão dos fundos,

cama de águas, espelho negro,

tentação e eco de velhos medos.

Se a nascente secar, o lodo guardará

a memória da água que dizia

a figura dos homens debruçados

nas pedras polidas, acima das avencas,

do fundo temerosos, desejosos.




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