3.7.22

CANSAÇO

 

Que sei eu do cansaço senão o que li nas pernas das mulheres

nas cordas cinzentas que lhes sobem pelas pernas

até ao peito que já foi fonte e se cansou.

Nos homens que não se cansam de plantar

para dar de comer a outros homens que tombam de cansaço

na beira dos campos, na beira dos dias.

No eterno cansaço de Sísifo, coitado,

iô-iô de deuses brincalhões

agora carrega agora sobe agora desce

e sempre e sempre sem descanso

mesmo nos quadros dos pintores famosos.

No cansaço dos poetas mais ou menos líricos

a obrigarem as palavras a dizer o que eles pensam que os outros sentem

e elas sim as palavras a ficarem cansadas e inúteis e a fugirem na primeira aragem.

No supremíssimo cansaço de Álvaro de Campos.


Licínia Quitério

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