Que sei eu do cansaço senão o que li nas pernas das mulheres
nas cordas cinzentas que lhes sobem pelas pernas
até ao peito que já foi fonte e se cansou.
Nos homens que não se cansam de plantar
para dar de comer a outros homens que tombam de cansaço
na beira dos campos, na beira dos dias.
No eterno cansaço de Sísifo, coitado,
iô-iô de deuses brincalhões
agora carrega agora sobe agora desce
e sempre e sempre sem descanso
mesmo nos quadros dos pintores famosos.
No cansaço dos poetas mais ou menos líricos
a obrigarem as palavras a dizer o que eles pensam que os
outros sentem
e elas sim as palavras a ficarem cansadas e inúteis e a fugirem
na primeira aragem.
No supremíssimo cansaço de Álvaro de Campos.
Licínia Quitério
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