12.6.06

NATUREZA QUASE MORTA


Paul Cézanne - Natureza Morta

eram mulheres à volta duma mesa.
teciam conversas com linhas da voz.
os olhos desviavam insectos verdes
a zumbirem memórias de outras mesas.

deitavam cartas a convocar futuros.
no fruteiro a natureza quase morta.
no retrato tinham pupilas vermelhas.
como as feras no escuro.

Vou ficar a pensar nessas mulheres. Sem letras azuis que as digam.

Licínia Quitério

10 comentários:

Manuel Veiga disse...

"pupilas vermelhas.
como as feras no escuro..."

amei o teu poema! e através dele, cada vez mais, as Mulheres da minha Terra!

greentea disse...

como os blogs se entreligam
se cruzam as ideias e as palavras no nosso pensamento

eu falo de pássaros

a lua de lobos, de uma laranja spbre a mesa

e tu

contornas o mesmo tema, noutros tons

beijos para ti

M. disse...

Muito interessante esta ligação que fazes com a imagem. Belíssimas as cores das palavras e os seus simbolismos. Muito, muito bonita esta mesa posta em que somos teus convidados. :-)

aquilária disse...

pois eu sinto o azul nestas letras. e outras cores, nos seus vários cambiantes.
um grande abraço, licínia

Alberto Oliveira disse...

Nada -nem uma linha, da conversa tecida por aquelas mulheres, escapou ao ouvido atento de Cézanne. Se que elas dessem conta, pegou na tela e foi-se. Iria substituir aquela, por outra obra. Com o título "Despojadas de letras, vestem-se de esperanças"

Beijinho.

alice disse...

tão bonita, licínia

uma vez escrevi qualquer coisa sobre a vida a apodrecer na fruteira

que as suas palavras levantem persianas sobre essas mulheres

muito solidário o seu post

bem haja

um grande beijinho

alice

Era uma vez um Girassol disse...

Muito interessante o teu poema...Também me faz pensar...
Nunca pensaria num quadro de Cezanne, muito menos numa natureza morta para pintar as palavras, torná-las vivas...Apesar do silêncio!
Beijinhos

Titá disse...

Não quero plagiar o Jorge esteves, mas de facto, enquanto lia tuas palavras vieram-me à memória cenas de filmes de Felini.
Essas mulheres, descritas assim são tão felinianas, quanto interessanes de ver retratadas.

DE-PROPOSITO disse...

Este pequenino texto lembrou-me o FEDERICO GARCIA LORCA. Vá lá saber porquê.
Fica bem.
Beijinhos.
Manuel

agua_quente disse...

Sem letras azuis, mesmo. Só tons escuros, fortes pinceladas. Belo.
beijos

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