A buganvília secou.
Não esperou pelo solstício.
Duas vezes floria em cada ano.
Viu uma vez a neve
e decidiu que tinha visto tudo.
Desistiu.
Florir sempre também cansa.
Recusou beber a água fria
com sabor a terra e a animais
enrijeceu as hastes
despediu as folhas
e ao vento as entregou.
Quando vierem as abelhas
já não encontrarão a mesa posta.
Ficaram os espinhos e
as marcas na parede.
Não passou testemunho mas
a festa escarlate dos seus cachos
perdurará na memória das abelhas.
Levantou a louça da mesa, lavou-a e pô-la a escorrer. Ele foi sentar-se no sofá a ler o suplemento de economia do jornal diário. Esperou que ela viesse sentar-se ao lado dele. Anunciou: Vai começar a telenovela. Estranhou o toc-toc dos sapatos de salto alto pelo corredor. Tem o péssimo hábito de andar descalça. Vestida para sair. O saco de fim-de-semana ao ombro. Olhou-a mas não lhe encontrou os olhos. Só a voz: Não esperes por mim.
No bairro ganhou o nome de o Espera-a-Mulher. Na paragem de autocarro. O das dezoito e vinte e quatro. É ali que se encontram quando voltam dos empregos. Espera que saia o último passageiro. Ela às vezes distrai-se a pensar sei lá em quê e não repara que chegou ao destino. Amanhã voltará.
Aprendeu a lavar a loiça e pô-la a escorrer. Espera não voltar a ouvir o toc-toc no soalho do corredor. Já o alcatifou.
Licínia Quitério
11 comentários:
bugavilias assim, morrem de pé! como as árvores... gostei muito.
... e amores assim, nunca morrem!
Olá Licínia! Já voltou à ativa?
Por aqui uma nova frente fria, mas não fria como as que aí se enroscam. Gostei do poema!
um abraço,
Hortência
Um poema lindo. um texto que o complementa numa sintonia perfeita.
bjs
Te recordo como eras no último outono.
Eras a boina cinza e o coração em calma.
Em teus olhos pelejavam as chamas do crepúsculo.
E as folhas caiam na água de tua alma.
Apegada a meus braços como uma trepadeira,
as folhas recolhiam tua voz lenta e em calma.
Figueira de estupor em que minha sede ardia.
Doce jacinto azul torcido sobre minha alma.
Sinto viajar teus olhos e é distante o outono:
boina cinza, voz de pássaro e coração de casa
fazia onde emigravam meus profundos anseios
e caiam meus beijos alegres como brasas.
Céu desde um navio. Campo desde os cerros.
Tua recordação é de luz, de fumaça, de tanque em calma!
Mais além de teus olhos ardiam os crepúsculos.
Folhas secas de outono giravam em tua alma.
Pablo Neruda
Gostei muito de passar por aqui, um beijinho grande ;)
MDB
Deixo-te um beijinho e agradeço este belo momento de poesia e prosa.
Fazias falta...
Não sei se você viu, Licínia, mas, ao que parece, o Jorge Esteves voltou ao campo virtual em que escrevemos e trocamos idéias.
Beijos
Belo regresso, Licínia! Apreciei-o palavra a palavra. Belíssimo!
bem vinda minha amiga!
E que bonitas palavras/pensamentos vieram contigo. Gostei muito!
Beijinhos
Olá Licinia
Gostei muito do poema.
Um bom fim de semana
Um abraço,
Dafne
é bom não deixar de pensar em férias. Gostei muito do teu blog.
Beijinhos
'A espera'. Pois é a própria vida é uma espera. E tu sabes o que nós esperamos. Alguns cansam-se de esperar, e, metem-se no autocarro, vão procurá-la.
Fica bem.
Um beijinho para ti.
Manuel
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