15.9.06

DA POESIA

Auguste Rodin - A Catedral

Se o poema demora,
espera o progresso dos ramos,
o choro oculto
na voz quente dos homens,
o anúncio do verão
na curva da cintura das mulheres.

Repousa as mãos na mesa
até que se desdobre
o algodão bordado
e se apresente o pão.
Dorme.
O corpo sobre a manta
da névoa litoral.

Acorda, com a calma
de um dia sem defeito.
Acolhe a ternura nas mãos,
o beija-flor no peito,
a música na pele.

Chegará o poema
a inundar a folha de papel,
a gravar nas sementes
a quentura do sol,
a desenhar perfis
de estátuas gregas
no céu do laranjal.


Licínia Quitério


"... Para seu equilíbrio, o Homem necessita tanto de instrumento como de símbolo, tanto de funcionalidade como de poesia, tanto de engenharia como de transcendência.
O excesso de um destes lados da balança produz doença. O excesso de instrumento produz a angústia de um grande vazio interior. O excesso de símbolo pode levar ao delírio sem meta nem objectivo.
A nossa sociedade prima pelo excesso de função. Pela falta de voo. Pela incapacidade para dialogar com as grandes e misteriosas forças do Universo e da alma humana.
Mas em todos os momentos da História apareceram os artistas e os poetas com as suas oficinas de pedras e de cores, de palavras e sonhos, a tentar levar o nosso olhar mais acima e mais ao fundo.
Estes artistas e poetas são homens e mulheres inquietos. Gente que se interroga sobre as suas angústias, que fala com a macieira e com a corrente do rio, que constrói catedrais e que se alimenta de música. ..."

JOSÉ FANHA

21 comentários:

OLHAR VAGABUNDO disse...

:)

Maria Carvalhosa disse...

Muito bonito o teu poema, Licínia! E o trecho do José Fanha emparceira lindamente com o conjunto (imagem incluída).

Bjos.

Pitanga Doce disse...

...esperar o poema! É isso! É como esperar o carrossel andar. A vida precisa de poesia e carrossel colorido.

vincedu35 disse...

que tal,?
Muy bien; have a nice day
Bonne journée

http://www.santeducation.com/

Anónimo disse...

Um abraço, Licínia.

Seguindo em Frente disse...

Linda sua poesia, e também o texto. Abraços
Mariana

Teresa Durães disse...

boa noite

sim, andam todos meios adormecidos, alienados. e não querem ser incomodados com as perguntas impertinentes dos outros...

que serão... os doidos?

M. disse...

Tão belamente terreno este poema. Gosto muito.

carteiro disse...

Que chegue então o poema, com aromas do Outono que se avizinha.
Bom fim-de-semana.

Era uma vez um Girassol disse...

Bem, querida Licínia, não sei como exprimir que adorei, adorei...Tudo!
- a escultura de Rodin
- o teu poema
- o trecho de José Fanha

Perfeito, na estética, no sentido, na mensagem!
Equilíbrio...harmonia...é isso!
Beijos

Maria P. disse...

Da poesia, não digo: Espero...


Bom fim de semana:)

vida de vidro disse...

Quando o poema demora, algo virá despertá-lo em nós. Há que dar-lhe tempo. :)
Gostei também do texto de José Fanha. Complementa bem o teu belo poema. **

Diafragma disse...

« ...A nossa sociedade prima pelo excesso de função. Pela falta de voo.»

E está tudo dito.

Memória transparente disse...

Do poema o sítio agradável.

Bom domingo.

Teresa Durães disse...

(porque precisavas de ler o texto todo?)

Clotilde S. disse...

Abençoadas mãos, cujos dedos tecem tamanha beleza poética.
beijinhos muitos e desejos de uma boa semana, amiga.

Joker disse...

Adormecidos "Pela falta de voo. Pela incapacidade para dialogar com as grandes e misteriosas forças do Universo e da alma humana."é assim que anda meio mundo...

O Lápis disse...

Só para deixar um beijinho

Maria P. disse...

Uma boa semana vizinha:)

tb disse...

foi bom encontrar este poema nesta data especial para mim.
Obrigada por ele!
Sim a vida o que vale sem sonhos e realidade?!
Beijinhos

Naeno disse...

Excelente poema, forte, cadenciado.
Ele tem o poder de não nos prende aos amores idos, nem so que estão por vir. Refere-se a vida, como uma contenção aos nossos ânimos, a que vivamos ela de forma harmoniosa, contada a esperança, a espera.

Um Beijo

Naeno

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