Foto de L.Q.
Sobre a mesa de pinho
uma taça de vidro
Lá dentro
uma castanha brava
um tronco de alfazema
colhido no quintal
uma folha de choupo
que me bateu à porta
uma bolota que chegou do sul
uma falha de xisto
um pedaço de lava do vulcão
uma minúscula rosa do deserto
uma vieira um búzio
uma estrela do mar
Tudo tão simples
A natureza veio à minha casa
descansar
Há quanto tempo foi que, pela última vez, paraste e te sentaste e respiraste fundo e fechaste os olhos e folheaste o álbum das tuas imagens? Eu quero dizer aquele álbum a que colaste a etiqueta "Coisas Simples". Já não te lembras. É natural. Depois de tantos temporais, de tantas guerras, de tantos relatos em grito sobre essas guerras e esses temporais, como deves estar cansado. Tão cansado que tens medo de parar. Ou vergonha... Não tenhas. Acredita em mim. Parar é reconhecer a Vida. Pode acontecer que sintas um leve arrepio. Um estremecimento como se adivinha na relva pela tardinha. Não te assustes. É o sinal de que estás pronto para saborear de novo as pequeninas coisas que havias esquecido. Foram elas que fizeram de ti um homem grande. E continuam ao teu dispor. E gostam que as revejas, de olhos fechados. Com um sorriso doce. Assim mesmo. Assim...
Licínia Quitério
22 comentários:
tinha já saudades de passar por cá. e tinha razões para isso, passar aqui, continua a ser um prazer.
um abraço grande.
Coisas simples...
Adorei!
Bjs
As coisas simples são sempre as mais importantes. Não saem de moda, não envelhecem e marcam a vida...simples assim.
beijos de domingo
Dona Licínia:
Nem calcula a paz de espírito que esta missiva me trouxe. Porque era exactamente disto que eu estava a precisar: coisas verdadeiramente simples. A sua pista (tão simples e singela mas tremendamente objectiva) teve o dom de me pôr a vasculhar os meus albuns de fotografias de uma vida assaz complicada (imaginava eu!). Afinal a montanha pariu um rato; apenas tenho boas recordações de um percurso que memorizava fértil em acidentes terríveis como daquela vez em fui apanhado por um combóio da linha de Sintra e parti as duas pernas... mas que importância teve isso se ainda estou aqui para o contar e a estadia em Santa Maria me apanhou na época do Natal dos Hospitais?! Que mais poderia eu desejar. Na foto -um pouco amarelecida aparece o Artur Garcia a fazer-me uma festa na cabeça... Quanta ternura nequele gesto...
E aquela outra imagem em que apareço acompanhado pela minha segunda mulher três anos antes de um divórcio litigioso em que só faltou chegarmos a vias de facto no tribunal... Mas os nossos sorrisos é que ficaram para a posteridade...
Bem haja pela sugestão da sua cartinha de hoje.
O seu leitor assíduo,
A. de Legível.
(Um óptimo domingo!)
minha cara licínia:
em muitas coisas nos irmanamos. dá uma espreitadela ao meu post de 28.11.2005, "coisas simples".
deixo um grande abraço e o meu muito apreço
"A natureza veio à minha casa
descansar"
Escreves com tanta sensibilidade, Licínia! Tens transparência no teu olhar sobre a vida. Gostei muito.
Muito bonito!
:)
que bom que fecho os olho a cada dia...
Gosto do que escreves
jinhos
Pois é isso que nos fica da vida, as pequenas coisas, o sorriso,o olhar, os cheiros, os abraços, as lágrimas, as palavras, assim, como as tuas...
Beijo
São as coisas simples que me fazem ficar por cá... é nas coisas simples que reside o grande e indesvendável mistério da vida.
São essas que recordademos na altura da morte.
Gostava de morrer rodeada de coisas simples.
Isabel
na partilha das coisas simples nos (r)encontramos.
maravilhoso post, nessa celebração à vida.
deixo o meu abraço fraterno.
As coisas simples, são sempre as mais belas!
É um prazer ler-te!
Um abraço carinhoso ;)
Gostei imenso deste post que tem um conceito que sempre defendi ao longo da vida, que é a procura do prazer das pequenas coisas, quando o encontramos é-nos mto mais fácil tornar o nosso quotidiano mais feliz e belo.
Bjs
TD
Adorei! " Fui essa pessoa", creia...
P.S. Faltou dizer que vou "reservar" os seus ecritos para os (meus) dias menos bons.
Não lhes damos o devido valor, tantas vezes... Talvez porque estamos absorvidos demais pela voracidade da vida. É, de facto, preciso parar e sentir. **
É Isso, a beleza das coisas simples... O que mais me agrada é esta interligação, esta complementarização entre o poema e a prosa, tão poética esta como aquele.
Obrigado pelo comentário no meu "Enquanto e Não". Pelos vistos não sou só eu que sou um cidadão atento
Um abraço
António Melenas
PS: Será desta vez?
"...Tudo tão simples
A natureza veio à minha casa
descansar..."
E eu descanso por aqui o meu olhar a ler-te.
Beijo e boa semana ;)
As coisas simles. às vezes esquecemo-nos e tanta falta nos fazem...
Obrigada por este belo texto.
Abraço.
passei por aqui para ver se havia novidades, mas continua nas coisas simples e belas, pelo que me limito a deixar um abraço e desejos de bom fim de semana que ele começa a aproximar-se.
Bjs
TD
Lindíssimo o teu texto. E adorei a simplicidade da fotografia. Não podias ter escolhido melhor.
Vim dar-te os parabéns pelos belíssimos poemas lidos na voz do Luís Gaspar.
Uma delícia ouvir a tua escrita, fica ainda mais especial.
Grata pela tua partilha.
Um abraço carinhoso ;)
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