Tudo me pede a escrita,
a fala, o canto -
A chuva, o luar, a seca,
o frio dos homens.
O alvoroço de longas mesas
de banquetes
ou o silêncio inquieto
das esperas.
A idade dos céus
ou o princípio das feridas.
Os abismos e as clareiras
na espiral dos dias.
Os sinais, os enigmas,
os mistérios dos caminhos.
O granito e o cristal,
o carvão e o oiro,
ou o sabor dulcíssimo
de um eco.
Tudo me pede a letra,
a voz, a música
e o gesto.
Pobre, tão pobre sou
que dou o que me invento
e sempre fica um resto
num recanto do tempo.
De mãos dadas é uma expressão de maravilha. Mãos oferecidas, recebidas, presas por vontade. Asim se passeavam as duas mãos, a dele e a dela, um cofre de afectos, de certezas. Os corpos ao compasso das mãos, seguindo os caminhos por elas traçados, sem que os donos de tal se apercebessem. Detiveram-se por momentos diante da moldura tomada por trepadeiras de campainhas em estridências de azul. Uma luz branca, teimosa, a devassar espaços onde as cores amorteciam, os contornos se esbatiam. As mãos deram-se com veemência. Quiseram segurar o presente, para que os seus donos mais fundo sentissem a verdade daquele recanto de um tempo ido.
Licínia Quitério
20 comentários:
As tuas palavras são tão profundas e belas: Quiseram segurar o presente, para que os seus donos mais fundo sentissem a verdade daquele recanto de um tempo ido.
Ah...como isto é verdade!
Sinto-o na minha Vida.
Bom domingo.
Beijos e abraços.
a fala, o canto -
A chuva, o luar, a seca,
o frio dos homens.
O alvoroço
O silêncio
das esperas.
A idade dos céus
Os abismos e as clareiras
Os sinais, os enigmas,
os mistérios dos caminhos.
O granito e o cristal,
o carvão e o oiro,
ou o sabor dulcíssimo
de um eco.
Intenso e belíssimo este poema
Faz-me lembrar Pablo Neruda
Tambémn nas "mãos-dadas" me agradou imenso,a associação que fazes entre ligar e ofertar, para além da poesia com que envolves a ideia
Um beijinho
privilégio meu que te leio em "virginal" leitura. e colho o orvalho ainda fresco da tua poesia. e na "espiral dos dias", saboreio o "sabor dulcíssimo" de teu eco.
Um encanto o teu recanto, como sempre!
Beijinhos Amiga*
Porque tudo te pede a escrita... por isso te dás desta forma, aqui. Felizes, nós, que podemos usufruir desse teu caudal de beleza. **
"A idade dos céus
ou o princípio das feridas."
_______________"recanto" perfeito!
beijo.
Belíssimo este teu recanto. Ler-te é um aconchego.
A propósito de mãos:
Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema – e são de terra.
Com mãos se faz a guerra – e são a paz.
(Manuel Alegre)
Bom Carnaval e até breve
SE DEUS QUISER
As palavras impressionaram-me, mas a ramada florida que entra pela janela igualmente não me foi indiferente.
Se te lembras do Carlos dos jornais, certamente irás achar graça quando leres sobre a personagem da próxima história que um destes próximos dias irei publicar no blog.
Lembro-me vagamente da louca que falas, mas não o suficiente para a poder transformar numa personagem de história, pois estou a tentar falar de gente com a qual interagi de alguma forma.
Bjs
TD
Mais um dia difícil, como tantos que passaram, como tanto que por aí virão.
Um beijo, aqui deste lado
Dois textos onde fulgura a generosidade e é acalentada a criação estética e a entrega.
O ambiente é de apaziguamento tão veemente na cadência das mãos (segundo texto) no vai-vém de uma tamanha amenidade.
Muitíssimo bom.
:)
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Deixo uma flor, um sorriso e um beijo
Entre a arte da janela/janela com mãos acenando/poemas cruzados como dedos entrelaçados - regressa a palavra ainda, vivaz como flor. Bjinho
tudo apela à palavra mas, tantas vezes, é o gesto, no seu silêncio eloquente, que tudo retém e tudo diz.
um abraço grande
E quando se soltaram, na verdade, permaneceram juntas, agora na memória.
Não tinham nada, chamavam-lhes pobres. Aparentemente. Porque tinham tudo. Um ao outro.
Desafio - qual a frase mais estúpida que te foi dirigida?
In GTL
Querida Licínia,
Depois das tuas, deixas-me completamente sem palavras... apenas a deliciar-me com o que escreveste.
Um beijo.
A felicidade está na simplicidade de momentos...mas é grande a dificuldade em senti-la ... felizmente há pessoas como tu que não só a sentem, como a transmitem.
Beijinho
boa noite, licínia. vim ler e cumprimentar a minha querida amiga, aproveitando ainda para lhe desejar um óptimo fim de semana. beijinho grande.
Um dia hás-de escrever na parede de todas as memórias...
'Cada poema que faço
em hora calma ou incalma,
é pequenino pedaço
que eu mesma furto à minh'alma...'
Abraços, amiga!
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