Tudo era água
e eu deitada nos leitos curvilíneos
das sereias
Era um canto longe
e eu dormente na viagem ritmada
das algas
Aromas de velas
antes do tempo ardidas
Todos os barcos encalhados
em súbitos baixios
Só eu só água
só o salto prateado de um peixe
só reflexos de mim
só a crua mudez dos oráculos
Da praia nem sinal
Há tanto tempo queria ver os golfinhos nas brincadeiras que se dizia acontecerem no estuário do grande rio. Ontem subiu para o barco e lá foi. O sol muito aberto picava-lhe a pele sardenta dos ombros. Com irreverência, tirou o chapéu da cabeça, atirou-o ao rio e deixou que o vento lhe soltasse os cabelos. Sentia-se tão bem. Rodeada de azul e verde e oiro. Foi até ao varandim da proa. Quase sem barco. A sós com as águas cheias de algas, de peixes, de medusas. Pirata nas Caraíbas. Num barco para Ítaca. Podia ter sido tanta gente. Podia ter estado em tanto lado. Mas era só uma mulher devassando as águas com o olhar salgado, na esperança de ver uma dança de golfinhos. Com um pouco mais de imaginação, até seria capaz de avistar uma sereia. Foi aquele sol a pique. Hoje acordou com febre. No sono agitado, sentiu que alguém lhe beijava as mãos. Regressará ao rio. Desta vez os golfinhos não faltarão ao encontro. Ah... e não voltará a dar o chapéu às águas.
Licínia Quitério
24 comentários:
Gostei do suave correr das tuas "Águas". Muito bonito.
Beijinhos Amiga.
belo o barco do teu olhar...
das águas.
se nada
à flor da pele
se bebe
da concha das mãos
unidas.
***
Gostei do seu blog e venho convidar para o jantar dos bloggers no dia 14. Se quiser, entre no meu blog e veja como é, ok?
Abraço,
nem de propósito. parece que o meu post foi feito para ti ;) isto sem pretensão nenhuma, naturalmente. e a ver se me lembro daqui a 6 dias vir dar-te os parabéns pelo 1.º aniversário cá do sítio! beijinho muito grande, senhora das águas ;)
Belas as palavras deste teu Domingo.
Um beijo.
Boa Páscoa para ti tb! Belíssimo o poema, atrevo-me a destacar:
"Era um canto longe
e eu dormente na viagem ritmada
das algas"
Querida Licínia,
Não páras de me maravilhar...
Por um lado, a solenidade de um belíssimo poema: este "Águas". Por outro, a tua desmontagem, a azul, em tom brincalhão e descomprometido, como quem tenta "aligeirar" esse teu outro lado sério e profundo, não vás tu própria acreditar que és apenas uma, a dos poemas a preto...
Um beijo com todo o meu afecto e admiração.
água assim tão navegável e bebível..........
não conhecia.
bebi-A. toda.
beijo.
Olá! Aproveito para deixar os votos de uma Santa e Feliz Páscoa!
O texto que acabei de escrever tem por objectivo homenagear todos os meus familiares: Os vivos, os mortos e os que estão por nascer ainda. O mundo é muito, muito pequeno.. … quem sabe se esse cheiro a flores não te persegue e protege a ti também….Para Sempre!!!
Até breve
SE DEUS QUISER
... a tal consonância das palavras no virtual em acção.
Desta vez, consonância de palavras molhadas das águas de um rio feito de encantamento com golfinhos, medusas e porque não? sereias. Águas de esperança apesar de tudo. E agradabilíssimas de se lerem, as tuas.
As minhas, molhadas da chuva que ainda se faz sentir, que Abril é mês de contagem larga no que a ela (chuva) diz respeito. Mas sempre de sorriso nos lábios,mesmo que não evidente nas ficções fantasiosas...
Beijinho e uma boa Páscoa.
Bonito, Licínia!
Se eu fosse um pota a sério, um poeta como tu, diria que gostaria de ser barco para navegar nas tuas águas, nas águas deste poema
Boa Páscoa
e um grande beijinho par ti
Aguá que levas as mágoas correndo de par em par...
O teu post relembrou-me este poema do Manuel da Fonseca tão bem cantado pelo Adriano Correia de Oliveira, dois bons amigos que há muito perdi.
E as tuas palavras também são relaxantes como quando as águas nos envolvem e nos tornam mais leves.
Bjs
TD
Minha querida "pintora das palavras"... obrigada, vemo-nos sempre nas esquinas, não é? E sabemos que gostamos, apreciamos. A face do rio sem areia e as fotos antigas, da terra que nos entra. Fica BEM, com pérolas, acho que te ficariam bem as pérolas, tão invulgares como a doença das ostras, como esta in-solidão que se transporta como pérola...
Continuo sem sinal da praia...mas continuo a acreditar na sabedoria das águas que me conduzem por entre os barcos encalhados. Se os oráculos continuam mudos, continuo, porém, a escutar o canto das sereias e continuo a reflectir a luz da vida. Continuo.
Beijo e uma Páscoa muito doce!
Lindo, lindo...
Vim dar-te um abraço pelo mimo que deixaste no girassol.
Foi tortura...
Mas a luta continua...
Beijinhos
querida licínia. boa páscoa para ti. e um grande grande beijinho *
Boa Páscoa e um abraço.
E nas águas brandas da Vida nos revemos...
Deixo um abraço e o desejo que tenhas uma boa Páscoa ;)
Tanta vez queriamos poder dar o chapéu às águas...tanta vez!
Mas para além de não chegarem os golfinhos, o barco se afasta e ficamos em terra!...
Muito belo Amiga e Parabéns!
Votos de Boa Páscoa e um ovito cheio de beijos da
Maria Mamede
ADOREI....O SITIO DO POEMA!!
Voltarei com mais tempo...
Agora é para desejar UMA SANTA E FELIZ PÀSCOA!
Beijinhos da
Maria
Pois é:quando há um aniversário diz-se:Parabéns.Ao blog aniversariante nada se diz.Lê-se e sente-se
João Abel
Dar ou não o chapéu às águas é irrelevante; como a febre que o sol de exageros lhe derramou pela calada. Importa, isso sim, é o querer de mar, de medusas e silhuetas de golfinhos. Sempre regressará com horizontes nos olhos...
Abraços, amiga!
sentido .. gostei
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