Sentado no degrau do mês de Abril,
Assim te quero.
Muitos livros abertos no olhar
O das perguntas ainda sem resposta,
O dos enigmas dos sonhos de cristal,
Os de aventuras de heróis,
Sem nome e sem morada,
E os outros, lavrados de paixões
Incendiadas de manhã
E à noite amortecidas.
Assim te quero.
De mãos limpas do pó e das ofensas.
Os braços tensos pela espera
De outros braços.
No desalinho dos cabelos,
Os alvos, luminosos fios
dos tempos de passagem.
Só não te quero se não cantares.
Que a tua voz fala de Maio
E é por ela que Abril há-de voltar.
Era Abril quando a casa me espreitou. Uma velha menina solitária, a descansar as suas pedras nuas. A porta entreaberta a convidar o cheiro das flores, o piar das aves, o rumor das árvores tocadas pela mornidão da brisa. Assim eu poderia falar da casa perdida na paisagem sem homens. Não consegui. Se me perguntam onde a vi, digo: Está onde Abril não chegou. Um sonho em ruínas, rodeado de mal-me-queres. A porta, essa sim, ainda entreaberta. Na esperança teimosa de um Maio que bem-lhe-queira.
Licínia Quitério
28 comentários:
Ah! Abril e Maio
meses irmãos inseparáveis
amigos do seu amigo.
Connvosco cantei esperanças
de futuros incontornáveis
de educação, da paz, do trigo.
Hoje, estão longe os risos e as danças.
Aceno-vos ao longe deste tempo com simpatia e a ternura da ingenuidade perdida. Que a coisa política é o contrário da festa da amizade, da lealdade, da palavra dita olhos nos olhos. Aprendi isso tão rápidamente que ainda hoje me custa a crer...
Beijinhos.
É um banho de frescura vir aqui e ler e reler estas palavras feitas prosa e poesia, alinhadas no propósito de nos despertar recordações e sentimentos.
Abril e Maio, meses que se querem, que queremos, que nos acenam de esperança...
Apetece cantar com Abril, apetece abraçar os ares de Maio, nas ruas empedradas da nossa terra-natal...
de cor, de palavras e de sonhos se faz a vida. Colhe lírios, abraça borboletas, respira Maio e degusta a liberdade.
S._________________________
Beijinhos embrulhados em abraços
Lindo! Lindo! Exultemos com as tuas palavras!
Esqueci-me de dizer que esta fotografia é belíssima.
Falta ainda muito para que se cumpra o sonho de Abril e se consolide a força do Maio! Mas é esse o destino, apesar de "eles" andarem por aí!...
Um beijo!
Estupenda esta tua alegoria da velha casa de portas abertas para acolher um Maio que há-de chegar. Um Maio outro que contenha em si um Abri renovado. Um Maio mágico mas não malévolo, deixando de fora as Maias
malvadas da crendice popular
Um grande beijinho para ti
Porque eu gostei tanto, tanto, deste casamento poético... Marte e Afrodite, Fogo e Terra, Guerra e Amor, fecundidade...
Especialmente por isso, hoje. Mas não só por isso:
http://camuflagens.blogspot.com/2007/05/thinking.html
Um abraço! :-)
oxalá-a-Mulher-de-Vermelho-cante-assim.-de-portas-abertas.-sentada-num-degrau-de-Abril.
em-coro-de-muitas-vozes.
Ressalvinha: Marte e Vénus (Ares e Afrodite).
Abril, Maio meses de ensejos fulgurantes!
Bjs
Reverência. Beijo-te a mão que escreve o poema. Abraço a prosa que embala o berço do nosso pensamento. Este Abril e Maio que festejas, lindos!
Mais uma vez aqui está tudo dito, e tão bem dito! E porque Maio me diz muito, gostei mesmo.
Beijinho amiga*
Abril é a promessa que em Maio se deve cumprir. Diícil é dizer algo não trivial sobre aquilo que escreves. Um texto no fio da esperança dessa porta entreaberta. Belo, pois. **
De portas abertas e janelas escancaradas seremos crianças?Já somos crianças?Sim um dia seremos crianças e permitiremos que o mar entre desgrenhado sem bater à porta - porque é nosso.Porque é nosso?Seja como for - seja de quem for - mas que seja.
Também vou espreitar a sua janela
Grande capacidade de síntese, a vida é composta por sonhos de várias cores.
Bjs Zita
Lindíssimo texto e belíssima fotografia.
Que serenidade
vem
me vem
das tuas Palavras !
Editado por: D. Maria
Gostei imenso de te ler! Beijos.
Abril (assim) reconforta!
Cumprimentos.
a primeira coisa que me chamou a atenção foi a foto que me fez lembrar qualquer dos quadros do Pissaro! Quanto às palavras são de um apuro e qualidade sempre constantes.
bjs
TD
da mais profunda nosTalgia
cheGa maiO.
a.la.Do
...
eu sou filha de maio. nasci amanhã, imagina. há muito tempo atrás. estou deveras nostálgica. não me apetece nada ficar mais velha... e o teu poema deixou-me assim. sem fôlego. beijinho grande.
bom fim de semana ;)
Há, creio, uma paisagem inteira, florida e perfumada, lá onde Abril não chegou...
Ouvi o vento dizer que lá mora a Esperança...
Abraços, amiga!
Olho para o título e leio abaixo dele: "águas mil e tempestades"!
E depois olho para a rua e vejo claramente como a poesia é uma janela.
Um abraço.
Nota: comentário feito há uns dias atrás, mas como tinha um erro, apaguei-o e repu-lo agora.
Um poema, um texto, simbiose sempre perfeita.
Gosto do teu blog.Deixo-te um beijinho e desejo-te um bom fim de semana.
Olá Licínia,
Foi Abril o sonho vivo do nosso povo e cantado pelos poetas de então.
Maravilhoso legado que vós guardais, que despertam levemente os jovens para que Abril não seja esquecido.
Sim, hoje o desafio é descobrir o Abril que habita nas vossas almas.
Sorte a nossa!
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