30.7.07

E...



Permanece a memória
na escuridão dos armários e
na lã e
na seda e
no desenho do corpo e
na linfa dos frascos e
no forro das gavetas e
nas nervuras das folhas secas e
na tinta dos livros e
no odor da canela e
nas casas translúcidas
dos sonhos repetentes

Voláteis partículas da memória
transportam o fogo e
o gelo e
a fome e
a sede e
o desejo de um absurdo plenilúnio e


"O que aconteceu para escreveres isto?" - perguntei.
Tentou explicar: - "Foi uma mistura de cheiros na noite. E as cores iam mudando. E eu pensava em bolas de sabão. E não era lua-cheia. E era outra a noite. E parecia um imenso retorno. E... "

Licínia Quitério

12 comentários:

Alberto Oliveira disse...

"... e não há volta a dar. Que as palavras não desaparecem sem mais aquelas (como as bolas de sabão), têm uma lógica (como a da noite,sucedendo ao dia)e porque sim. Que vou de férias. Mas retorno... "

beijinho e sorrisos... madrinha.

APC disse...

E sai como sai.
Brota do peito em bruto.
Um diamante na noite.
.
.
.
Como o "senhor de cima", também eu vou de férias. Vim deixar-te um abraço! :-)

Manuel Veiga disse...

retornamos sempre à(s)mesma(s) palavra(s). inscrita(s) no fogo de nós. e na fome. e na sede. e...


... assim o Desejo!

excelente.

Anónimo disse...

... inda não amanhecera
e mesmo a noite bocejando
o primeiro canto-raio do galo louco
não eclodira no ato de acender o dia

Luz de pirilampos
Incendeiam os sonhos
Canoros sonhos
Incrustados
No peito da ave
Impelindo-a
A soltar o canto-raio de acender o dia

Cusco disse...

O que aconteceu para escreveres isto?"

Por vezes faço essa pergunta a mim mesmo...E não consigo encontrar a resposta.
Acho que Alguém me pega na mão e ajuda a soprar as bolas de sabão..

Um abraço!

vida de vidro disse...

E como explicar quando as cores são cheiros e e tudo se mistura nos sentidos... e as palavras encadeiam-se sem explicação aparente? Bom reencontrar-te.

Mar Arável disse...

Quanto é assim - acontece o poema

Anónimo disse...

... e este sítio cada vez mais poético... beijinho, licínia :)

bettips disse...

Quase nem te reconheci...que saudades! Sempre o papel perdido, com as palavras amareladas de tempo, passado. Retorno. Curvas da formiga no carreiro. E beijinho.

aquilária disse...

em tudo, uma voz (tão próxima e, ao mesmo tempo, tao longínqua)chama.


abraço

Kalinka disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Klatuu o embuçado disse...

E... ? Sempre: um... E...?

Dark kiss.

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