Poisa os teus olhos sobre o verde. Respira leve como se fosse o medo que te guia. Abre devagar a tua mão direita até que seja concha. Ajoelha-te rente à frescura da manhã. Bebe o inconcebível frémito da luz. Deixa o teu sangue correr pelas nervuras do outro corpo que não sabes. Nascer-te-ão palavras na garganta. Talvez consigas dizer um poema, gota a gota, e uma asa o deponha, com desvelos de mãe, no cálice da noite.
Licínia Quitério
Licínia Quitério
15 comentários:
Vim ao encontro da cor, da imagem, do som...
Beijinhos
Nessas gotas depostas no verde perfeito, está decerto um poema. Que apetece beber. Devagar. Para matar a sede de beleza.
Poiso os meus olhos sobre o verde.
Para conseguir dizer um poema, gota a gota.
Um beijo.
Embora em forma prosaica, o que escreveu é um poema.
Um belo poema!
frémito de poesia. gota a gota...
talvez consiga dizer um poema agora que te li ;). um beijo.
e depois o bebas.
num campo de infindáveis rituais.
beijO
«gota a gota», palavra a palavra, disseste um texto lindo,
da natureza, da madrugada, da criação poética.
"Nascer-te-ão palavras na garganta"... como eu gostaria de ter escrito isto! Que beleza de texto!
vale a pena fingir que não me afogo em lágrimas?
?
que me espero acorrentada neste som ácido
à face da noite mais que gelada
onde gota a gota tremo.
Poisar os olhos sobre o verde é uma coisa que me vai custando cada vez mais, mas enfim: não seja por aí. Respirar leve, após anos e anos a fumar que nem uma locomotiva a carvão, é quase impossível mas prontos, respiro. Abrir a mão em concha, numa rua movimentada ainda vão pensar que ando na pedincha, por isso esse exercício devo fazê-lo com algum recato. Ajoelhar-me, com os ossos em mísero estado, é o mesmo que dizer que vou andar uma semana em cadeira de rodas para recuperar. Beber é coisa que não recuso, mas esse "líquido" de que falas não dá choques? Deixo, claro, "correr o sangue pelas nervuras do outro corpo que não sei". (o mais avisado é mesmo colocar as aspas nesta frase, não vá a minha Adozinda passar por aqui e dar-lhe uma coisa má ao ler isto. Palavras na garganta, sempre! Dizer um poema é que é mesmo improvável de todo. Essa parte do cenário fica ao teu cuidado e muito bem entregue.
gosto do que sinto ao te ler.
grato, de coração.
Ui! tinha escrito aqui o meu comentário e ele foi-se, por causa de qualquer erro informático.
Dizia mais ou menos isto: que ao ler estas belíssimas palavras senti como que se fosse sequência de expressão em relação às que escreveste no post anterior. Sinto-as como que a expressão de um crescimento interior que o ser humano vive ao longo da vida. A descoberta do amor através desse próprio amor e da vida. A criança, a adolescência. O crescimento físico e a sua ligação com os nossos sentimentos de gente. E as imagens fraccionadas, lindas, levaram-me também a esse sentir. Somos fraccionados em etapas de crescimento interior e exterior.
Ainda hoje, apesar do cinzento que escorre do vento que vem do mar, reparei naquele arbusto que teima em rasgar verde o cerne castanho da carne que o frio lhe tisna. E encolho-me, por vezes, no desânimo. E volto a olhar o verde rebento. E, como o Poeta, vejo que é verde; mas por que é verde... não sei!
Abraço, amiga!
Improvável é não ficar fascinado por este poema.
Bebo-o no cálice desta noite.
Um beijo.
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