Hás-de contar-lhes como atravessámos os serões com uma faca nos dentes, aguardando as pancadas secas na porta das traseiras. Que só podiam ser três, com um segundo de tempo entre elas medido. Abria-se Sésamo e a conversa folheava histórias com ladrões de pão e de futuro. Declarávamos que as asas da verdade seriam velozes e seus rumos altos e certeiros.
Hás-de dizer-lhes como voltámos ao claro-escuro dos pátios onde deixáramos as construções de saibro e chuva, para nos alegrarmos com o germinar das sementes.
Não lhes dirás que alguns deles rapinarão as águas, nem que outros soltarão os cânticos purificadores da sujidade das ruas.
Deixa que riam quando uma cigana lhes ler a sina na palma da mão.
Licínia Quitério
12 comentários:
Tuas palavras, hoje, trouxeram as mesmas sensações que sinto ao rever o rio da minha vida, ao revê-lo, depois de anos de separação. Sim, às vezes passo anos e anos sem voltar à minha terra. Quando o faço, tenho que atravessar o rio. E os sentimentos, sempre os mesmos. Raramente tento externá-los. Silencio.
Deixa que as memórias sejam aladas.
Hás-de dizer-lhes como as palavras podem tecer mágoas ou transmitir a esperança.
deixa que riam... um beijinho.
o SEGREDO ESTÁ NA PALMA
DA MÃO
DA CIGANA
QUEM VAI LER?
Viagem por recordações que nos fazem questionar o presente. Caminhos de vida que, por vezes, se separam. Ou não.
Eu cá disso nada sei. Sei é que realmente as sementes estão a germinar por todo o lado, mais as das ervas daninhas do que as que gostaríamos de ter nos jardins e nas hortas...
Não vou muito em sinas porque nas palmas das mãos só tenho os calos de apertar os cabos da roçadora e da enxada.
Mas venha a cigana e ouçamos o que tem para nos dizer.
hás-de contar-lhes que o Futuro é um encontro de mãos generosas...
grato. por esta quente emoção.
Parece-me que sabes bem o que fazer com as palavras...
O teu comentário em UN_DRESS já deixava revelar essa "expertise".
Só o farias se não as trabalhasses e revirasses, as escrevesses e as revelasses..., assim!
Por isso, não lamento discordar, um pouco de ti...
Ainda bem que resolvi vir aqui.
[BEIJO] já não tão desconhecido.
a licínia deixa sempre a chave do poema no vaso das begónias. é por isso que venho cá ver das flores*
beijinho.
Eram, porventura, histórias dos tempos inventados?!...
As mais puras!
Abraços!
Raramente vejo prosa no seu blog e gostei igualmente de a ler.
Bjs
TD
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