17.4.08

UM HOMEM
















Com quantos golpes
se constrói um homem?
Do adamastor ao santo
quanta palpitação
até ao rebentar
das veias sob a pedra?
Quantas lâminas
para rasgar o oval
deserto e branco
do átrio do olhar?
De quantas cores se tinge
o pano de emoções
com que se forra o berço,
com que se apaga a chama?
Incontáveis os gritos
soltos em cada poro
até se abrir o ventre
à flor da claridade.
Da aridez da terra
um vulto de homem nasce.
Por ele se engrandece
uma casa do céu.


Licínia Quitério

15 comentários:

Rodrigo Fernandes (ex Rodrigo Rodrigues) disse...

Imagens e ritmo extraordinários.

M. disse...

Gosto muito, Licínia.

© Maria Manuel disse...

questões da humanidade

hfm disse...

Gostei muito desta "casa do céu".

Anónimo disse...

ora aqui está um boa pergunta e uma boa resposta, cara licínia :) homens assim já não há por aí... um beijinho e bom fim de semana *

maria josé quintela disse...

incontáveis sim. os gritos e os golpes.

no acto de nascer. no acto de morrer.


o entretanto é representação.

Justine disse...

Fragilidade e resistência,facetas humanas aparentemente tão longe mas tão irmãs.
Belíssimo poema.Obrigada

Bom fim de semana :))

Maria disse...

Excelente poema, Licínia...
Bom domingo

Joana Roque Lino disse...

com quantos golpes... :)

Graça Pires disse...

Abrir as mãos e ver um homem sorrindo. E chamar-lhe amigo. Deixar que escreva num muro branco o futuro dos gestos e da sede.
Um beijo Licínia. É um belo poema.

Manuel Veiga disse...

forte. imenso. a entrar(legitimamente) nessa "casa do céu".

as tuas perguntas interpelam. com urgência...

excelente.

Maria Laura disse...

Perguntas necessárias. Indispensáveis. Com urgência de resposta.

Poema belíssimo!

bettips disse...

Um poema-escultura.
Que senti. Como lentamente, o cinzel das palavras esculpia as respostas.
Bjinho

Alberto Oliveira disse...

... não é fácil o ofício de esculpir poemas. Eu, se o tentasse, ao primeiro movimento com o cinzel, escaqueirava o monitor do pc e nem este comentário veria a luz do dia. Tu não; trabalhas a pedra com tal perícia que das palavras surge um homem como por artes mágicas. Não contabilizei o número de golpes, mas que tem bom aspecto, tem. E está de parabéns: nasceu num mês de boa memória para aqueles que acreditam num homem novo.

beijinhos.

jorge esteves disse...

Diziam, em tempos velhos, que o Homem é feito de areia. Porque a mulher é feita de oceano...


abraços!

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