28.7.08

A CASA



A casa sempre estala
que não há outra forma
de, no gelo da terra, perdurar.
Depois há os incêndios dos sonos breves
a tatuar na cal escorpiões,
crescentes de lua,
asas de borboleta,
algumas palavras sem vogais,
inesperadas simetrias.
Assim a grande casa,
monumental ruína,
livro do princípio com uma página em branco.
Alinhados permanecem os ninhos
de onde partiram todas as aves
no cinismo dos calendários.
A luz a justifica,
a define, a revela, a oferece
ao braço redentor do esquecimento.
Nada mais a dizer.

Licínia Quitério

14 comentários:

maria josé quintela disse...

pois eu digo:


a casa também é o sítio do poema.



um beijinho.

Vanda disse...

A casa é luz sem cal na tua memória, Licinia.


E está escrita com a traça simples das coisas intemporais.


Um beijo

vieira calado disse...

Muito bom, este seu poema.
Bjs

Lúcia disse...

A casa: uma força que nos situa.
Belas palavras, Licínia.
Beijinhos

Maria Laura disse...

Ainda que estalando, ou em ruína, a casa é o que fomos, a raiz. Sei uma casa assim e vi-a no teu poema.

Marinha de Allegue disse...

A casa, o punto de encontro e saída...

A imaxe fascinoume.

Beijinhosssss.
:)

M. disse...

Poderoso!

Unknown disse...

A casa, mesmo abandonada, vencida pelo tempo, gasta e velha, enche-nos de lágrimas, de calor, de vida, de mistério: é isso a casa. Poema bom, triste embora, mas é a casa da vida no dorso do mundo em que vivemos.Em que morremos.
Eduardo Aleixo

© Maria Manuel disse...

é casa é lembrança nas tuas palavras tão poéticas.

Graça Pires disse...

A casa a estalar pela ausência. Planta um canteiro de alecrim para que a visitem... O teu poema é lindíssimo. Um beijo Licínia.

Justine disse...

Perante um texto tão belo,tão prenhe de sentidos e imagens, pouco ou nada há a dizer a não ser obrigada por o teres escrito assim!

bettips disse...

As ondas do teu pensar
veleiro e varanda
casa-mar-é.
A tua, onde encontramos (nos)
a cal do tempo entre dedos.
Bjinho

Manuel Veiga disse...

casas que nos habitam. e fecundam. cal esboroada nos dedos. bálsamo para os dias que nos consomem...

belíssimo.

beijo

Anónimo disse...

"Alinhados permanecem os ninhos
de onde partiram todas as aves
no cinismo dos calendários."

muito belo este poema.

cordeais saudações

Mel

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