28.10.08

Outras falas


"Não te contei, amor, dos sonhos com paisagens inacabadas, com velas vermelhas que das pedras negras soltam barcos, com desenhos verdes que nos lembram plantas de jardins terrestres? Não te disse da leveza que nos lava as sombras e da fragilidade das correntes em redor dos pulsos? Desculpa, amor, se nada te contei no tempo certo. Eu não sabia da inconsistência das construções. Só quando crescemos mais que a nossa dor podemos sentir o que nunca dissemos, caminhar ombro a ombro com os medos e murmurar: Tão belo era o que já posso ver."
(Fala da personagem principal de "Novos lamentos pela morte de Teseu" que será dita com voz macia e líquida, a escorrer pelo basalto, a caminho do lago onde apenas vivem peixes cegos.)


Licínia Quitério

24 comentários:

maria josé quintela disse...

os peixes serão cegos



mas não surdos


a falas tão insinuantes!


um beijo licínia.

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

belo texto.

estou comovida.

beij

Maria disse...

de olhar líquido,
e sem palavras

deixo-te um beijo

vieira calado disse...

Gostei deste pequeno naco de prosa.

Cumprimentos

Manuel Veiga disse...

"Tão belo era o que já posso ver..."

as labaredas que consomem também cegam. tens razão...

admirável talento literário. o teu...

beijo

A Lusitânia disse...

"desculpa amor, se não te falei no tempo certo"
belo, mas há sempre um dia que as velas vão a caminho do céu!

Rodrigo Fernandes (ex Rodrigo Rodrigues) disse...

"Só quando crescemos mais que a nossa dor"...Esta é a frase certa, a que resume com meticulosa precisão a ideia geral dos "Novos lamentos pela morte de Teseu".

"Desculpa, amor, se nada te contei no tempo certo." Pois o tempo certo outra coisa não faz que descontar.

"Tão belo era o que já posso ver." Na decrepitude da velha idade os olhos abrem-se para o que já foi belo. A beleza do presente foi confiada aos peixes cegos.

vida de vidro disse...

Palavras que emocionam, que apelam para o nosso olhar sobre o tempo e essa "inconsistência das construções". Belíssimo. **

M. disse...

Dói. Mas é belíssimo.

Ad astra disse...

belo!

Anónimo disse...

Olá :)
O Blogue dos Manteigas passou por aqui, via Rosmaninho da Serra :)
Um abraço,
http://bloteigas.blogspot.com/

bettips disse...

Só mesmo dizendo que acrescentados somos, conhecendo-te as flamas, as falas.
O que me ocorre para tanta sincronia de imagens que nos fica depois de te ler (ver).
Tão belo se sente o que já nos (atrevemos) sentir neste tempo (certo) de nós.
Bjinho

Anónimo disse...

Tanta coisa que fica sempre por dizer quando o amor parte.

Justine disse...

Pungente, belo e emocionante, o teu falar!

batista disse...

voltaste, Amiga – e contigo as palavras de encantar! valeu a espera: belíssimo post!

(... espero por mais da fala da personagem citada...!)

deixo uma beijoca fraterna e saudosa.

hfm disse...

da beleza das palavras.

Maresia disse...

Adorei... Belas palavras

Graça Pires disse...

"Só quando crescemos mais que a nossa dor podemos sentir o que nunca dissemos"
Os meus olhos ficaram líquidos como um lago...
Um beijo Licínia.

mafalda disse...

Ai Licínia... tão bonito!...
Estou, literalmente, pregada ao texto... e a ouvir-te dizer o mesmo com a tua:
"voz macia e líquida, a escorrer pelo basalto, a caminho do lago onde apenas vivem peixes cegos".

Beijos, beijos.

Mar Arável disse...

Excelente

os olhos não mentem

Já vi um cego chorar

lágrimas vivas

lá no fundo

das marés

Maria Carvalhosa disse...

Querida Licínia,
Mais um texto delicioso, que não posso deixar de colocar no multiply, uma vez que tenho a tua permissão. Tanta gente que não te conhece e nem imagina o que está a perder!
(Por favor diz-me, quando puderes, se recebeste o meu mail com os acessos).

Beijos, amiga (é uma honra e um prazer enorme poder chamar amiga a uma pessoa como tu!...)

Nina Owls disse...

afinal já posso ouvir a música.
;)

Patanisca disse...

Oi, Licínia, o que mais gostei foi da "voz macia e líquida, a escorrer pelo basalto, a caminho do lago onde apenas vivem peixes cegos", mas quero sobretudo dizer que gostei de tudo. Os meus sonhos também têm paisagens inacabadas. Quando acordo ponho o portátil em cima dos joelhos, e puxo as almofadas todas até sentir as costas e o pescoço confortáveis, e ponho-me a fazer planos para o dia. Entre os meus projectos está sempre o de acabar as paisagens que me visitaram nos sonhos. As velas vermelhas não gosto muito. Estive há uns dois dias no Tremontelo e o Rodrigo encheu o chão do salão e as escadas de velas violeta e lilás com um odor a almíscar e sândalo. Que rapaz endiabrado! Eu não conheço os "Novos lamentos pela morte de Teseu". Se me puderes mandar o ISBN eu arranjo-o em qualquer parte do mundo.

Beijinhos.

Alberto Oliveira disse...

... a poetisa me desculpe mas essa imagem cheira-me a tragédia grega da grossa. Procurando imitar Hércules, o nosso herói espatifou-se com o parapente na encosta da serra.

Desculpai-me se estou errado, senhora das falas poéticas...


beijinhos e sorrisos.

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