1.9.10

CREPÚSCULO



Foste a minha noite, o meu ócio, o meu vício,
a argila com que moldei os cântaros da madrugada,
meu talismã contra o medo e a peste e a solidão,
a névoa luminosa dos meus olhos cerrados,
o meu canteiro de conversa e água fresca.
Hoje consulto, nos céus crepusculares, hieróglifos,
aguarelas de barcos em pedaços,
labirintos, enigmas, profecias.
O dia chegará de saber ler na nova escrita
a explicação da noite e da curva da adaga a 
desfazer as altas aves e as coisas partilhadas.

Licínia Quitério
   


17 comentários:

Lídia Borges disse...

Com a qualidade literária a que já nos habituou.
Quero realças o ritmo e a luz da mensagem crepuscular.

Um beijo

hfm disse...

"o meu canteiro de conversa e água fresca" que beleza, Licínia!

sonia disse...

licínia
seus poemas são belos
neles, a delicadeza e a força, lado
a lado
é isso que me faz admirá-los

Benó disse...

Tanto dizer e sentir com tão poucas palavras.
Como sempre, gostei.

Virgínia do Carmo disse...

Todos esperamos um dia desses...

Abraço

jorge vicente disse...

e aqui, as altas aves são
e sonham todos os poemas
do mundo.

um belo poema!

abraços
jorge vicente

Justine disse...

Do céu aparentemente sereno soltam-se fantasmas antigos sobre a tua casa. Mas chegará o dia, sim, em que esses fantasmas se transformarão em anjos de paz.
Magnífico de concisão, contenção e lucidez, este teu belo poema.
Um beijo amigo

Anónimo disse...

Casam bem a foto e o poema.
Parabéns
AIDA

Maria disse...

Há poemas teus que 'mexem' muito comigo. Este é um deles.
Obrigada, Licínia.

Um beijo.

© Maria Manuel disse...

sempre tão belos e ricos de imagens os teus poemas, Licínia!
e, sim, podem ser dolorosos os nossos crepúsculos (embora nas tuas palavras sejam sempre lindíssimos), mas um dia "as altas aves e as coisas partilhadas" encontrarão a paz dentro do recanto mais estimado do coração. beijinho grande.

Mar Arável disse...

Muito belo como sempre

Chegará um dia a água fresca

Alberto Oliveira disse...

... quem me dera saber ler os céus crepusculares e outros tantos insondáveis enigmas de que a vida é feita. Mas isto é coisa que me está na massa do sangue, a de passar ao lado das coisas da ciência certa e da outra. Vem esta minha maneira de ser, dos tempos da escola «mostra-me lá os trabalhos de casa, Lé» e orgulhoso estendia à dona Lucinda o caderno em branco «mas tu não fizeste nada!!» espantava-se a profssora «quem nada não se afoga!» retorquia eu. Ainda a classe não tinha acabado de rir e já eu estava de mão estendida aguardando as palmatoadas. No intervalo, no recreio, esfregava a palma da mão vermelha e dorida com água fresca.

beijos e sorrisos.

Aníbal Duarte Raposo disse...

Licínia,

Passei e gostei muito deste teu poema.

Beijo

Maria P. disse...

"o meu canteiro de conversa e água fresca"

...de uma beleza...que não sei comentar.

beijinho, vizinha*:)

Graça Pires disse...

Um dia voltará a noite com o ócio e com o vício e com a frescura da água. Um belíssimo poema, Licínia.
Beijos.

Manuel Veiga disse...

os dias por luminosos que sejam têm seu crepusculo...

beijos

M. disse...

A beleza do afecto e da memória. Lindíssimo, Licínia!

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