Tão estranha a noite. A noite e os escombros, cicatrizes de diurnos abusos, esconderijos de vigilantes répteis e seus membros renascidos. No meu coração a pele dos muros, alfabeto de povos chacinados no sono acre dos deuses. Cabeleiras vegetais alongam os ombros da noite, encobrem a desistência das pedras, desenham tranças e cabalas. Há homens que acendem luminárias e as põem a vogar na noite. Com elas os espectros e as gargalhadas tracejantes onde não poisam flores. Nos meus olhos a grande lua e os seus presságios de nascimentos fáceis e marés altas e súbitas germinações. Ela me deixa aperceber o recorte do polipódio, verde pela manhã.
Licínia Quitério
8 comentários:
Quando a ficção se torna realidade
apetece amar melhor as palavras
Bj
Palavras que são pinceladas, bem arrumadas, num quadro de noite, sonhos e pesadelos.
Há os homens que controem noites, há a poesia e os poetas que nos vão dando alguns fulgores de humanidade!
Apesar de tudo, eu amo a noite... é tudo mais verdadeiro.
Para mim, digo eu...
Um beijo.
Quantas vezes estranha, quantas vezes amiga...
A noite será dia e o dia será noite...uma questão de olhar sentido!
Gostei!
Ausente durante uns dias que bom foi vir aqui e encontrar um texto tão belo!
fulgurante. na vertigem de "gargalhadas tracejantes"...
beijos
Dolorosamente belo.
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