2.5.11

PONTO



Flores são flores. Ponto. Não são montanhas
lagos crianças descalças.
Estão nos vasos nos jardins nos compêndios
de botânica nos cemitérios. Ponto.
Não são a alegria das noivas a sabedoria
dos jardineiros a dor dos sobrevivos.
São brancas azuis verdes vermelhas amarelas. Ponto.
Não são a candura o céu a floresta
o cio o ciúme.
São minúsculas medianas grandes enormes
extraordinariamente grandes. Ponto.
Não são o grão de talco o saber dos tolos
o amor amado o desejo de voar
o desejo de ser deus.
Vivem sós em cachos em espigas
em chapéus numa só cabeça em chapéus
em cabeças diferentes. Ponto.
Não são a solidão o grupo a cidade
a multidão acéfala a multidão em festa.
São duradouras breves efémeras. Ponto.
Não são a força das mães o amor de verão
a fama dos heróis. 
São um pretexto para dar espessura ao texto. Ponto.
Não são letras  sílabas palavras.
São flores assim ditas no começo.
Ponto por ponto.


Licínia Quitério

6 comentários:

Benó disse...

Há muitos tipos de flores, Licinia, como tu bem sabes. Eu creio que as flores são tudo isso que tu dizes em negação. Ou não?

Justine disse...

Pois é, minha amiga poetisa, é preciso pôr os pontos nos iis, ser muito lúcida e saber distinguir sempre o que é realmente importante do que é acessório...
A beleza, às vezes, não é fundamental!

Anónimo disse...

Lindo bordado! Ponto pé flor...
Gostei e ponho os pontos, as vírgulas e as reticências onde me apetecer...
Bjka
AIDA

Anónimo disse...

da raiz passando pela tenrura do caule ou o picar do espinho
aberta
ou botão
promessa
as flores
que muitas vezes transportámos na mão
e nos estão nos olhos.Lindo pontofinal.
Bj da bettips

Manuel Veiga disse...

"dá-me lírios
e rosas também..."

beijos

M. disse...

Bastar-se-ão então a si mesmas pelo que são e assim serão inspiração e significado.
(Vou tentar pôr-me em dia com o meu atraso aqui.)

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