17.8.11

SE AGORA



Se agora aqui estivesses, neste tempo

de brumas pegajosas, com sinetas de

alarme no coração dos ossos, ficarias

suspenso no adejar das raparigas,

remoendo silêncios de velha porcelana.

Caminharias no limiar dos precipícios,

para trás e para diante, numa demora

insustentável, num ritmo sublinhado

pelo metrónomo dos dias, assim

traçando as linhas da argúcia, da lucidez,

da amargura que se lia no vago tremor

das mãos, no desejo imerso nas pupilas,

na tentação da fogueira, sim, da fogueira

a chamar-te no estertor dos rios.

Se aqui estivesses, nestes dias de breu,

dirias, com os braços a despertar nos meus:

Hoje há chuva de estrelas.

Só no escuro as veremos.



Licínia Quitério

10 comentários:

Anónimo disse...

Belo, L. Vejo-lhe os passos e sinto-lhe a revolta, remoendo as notícias e os concursos-onde-ganham-os-mesmos.
Tenaz e pertinente vejo.
(tão claro como a menina na beira do telhado)
Bj da bettips

Benó disse...

As estrelas brilham mais no escuro.

Maria disse...

Por aqui não se têm visto estrelas. Mas o teu poema é lindíssimo e eu consigo vê-las aqui, mesmo!

Beijo, Licínia.

hfm disse...

Digo- te apenas duas palavras, cara amiga - da densidade.

Mar Arável disse...

Quando as noites são claras

soltam-se as palavras

Justine disse...

Encantada, caminho pelo beiral da tua poesia, onde há sempre um fio de esperança...

Manuel Veiga disse...

no diálogo intimo dos afector. a acender estrelas...

belissimo, minha amiga

beijos

Maria Carvalhosa disse...

Verdade, Licínia. Por vezes ficamos como os gatos, capazes de ver melhor no escuro!
Lindo o teu poema.
Beijos.

M. disse...

Apaixonadamente belo, Licínia.

sandrafofinha disse...

Se agora aqui estivesses eu daria-te um beijinho,mostraria-te os meus bordados de ponto de cruz,falavamos de coisas que se passaram nas nossas vidas,enfim,se agora aqui estivesses te posso garantir que serias feliz na minha companhia. Mil beijinhos fofinhos,fica bem querida!!

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