4.6.14

O LIVRO


Quando abrimos o livro pela primeira vez, uma voz soou, morna e macia, a aconchegar paisagens no nosso ouvido interno. Líamos lagos e mulheres jovens, descalças, antes dos filhos e das batalhas que haviam de fazer. Muitas páginas depois, lemos os homens, também jovens e descalços, a aprenderem a leveza das mulheres, a estranharem a força dos fios, o engenho das teias. Já o livro ia a meio quando os lírios floriram no chão das guerras, brancos, perfeitos, anjos restauradores do tempo da brandura. Aqui devíamos ter fechado o livro, antes das páginas onde tudo apodrece e um odor a aves degoladas alastra e enlouquece.

Licínia Quitério

3 comentários:

Atena disse...

Um livro, como todos dizem, é uma janela para o mundo.
Mas um livro, tb é, o desfolhar da nossa vida.
À medida que vamos crescendo, os nossos gostos vão-se diversificando. E, no que respeita a leituras, estamos sempre a crescer.
Gostei mto do seu poema.

Shirley Brunelli disse...

Tudo tem seu tempo...Sempre há muito nas entrelinhas.
Licínia, um beijo!

Manuel Veiga disse...

um livro sem fim...
a que não podemos arrancar algumas folhas...

beijo, Amiga

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