19.4.15

CRAVO


Escrevo-te daqui, da beira rua, 
com todas as letras decoradas, 
no tempo dos quintais e das amoras. 
Aprendi a casá-las, descasá-las, 
em trabalhos de verbos, em uniões de nomes.
Soube-me bem ouvi-las, 
a fabricarem músicas, arpejos, 
melodias, 
por vezes gritos, com eco noutro peito, 
noutra rua. 
Às vezes escrevo sol, outras caverna. 
Às vezes me demoro, outras me apresso.
Com cinco letras rubras, 
um dia escrevi 
Cravo 
e ele pegou raízes nesta casa. 
De tal sorte medrou, o passageiro de Abril, 
que a desordem nas letras se instalou.
Umas mais se juntaram, outras se retiraram. 
Assim, 
por mais que as mude, 
que as ordene, 
ao escrever Cravo, escrevo 
Liberdade.
Nada a fazer. 
Eu fico bem. 
Missiva terminada. 

Licínia Quitério

7 comentários:

Majo disse...

~ ~
~~~~~~~~~~~ Muitos...
~ Muitos de nós tem um cravo plantado
~~~~~~~~~~~no peito...
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Mar Arável disse...

Eu te Cravo

vermelho
na bela memória
dos pássaros de sempre

Era uma vez um Girassol disse...

Lindo....
Bjs

Manuel Veiga disse...

cravos viçosos - em teu peito!

beijo

Justine disse...

Não faz mal, Licínia. Passo tantas vezes sem deixar rasto...
Um beijo de Abril

Graça Pires disse...

Gostei tanto de te ler, Licínia. E também escrevo cravo e Liberdade...
Beijo, amiga.

bettips disse...

Presente! Até que a tecla, a voz, o pensar, o lápis, a caneta, o querer
se detenham.
Bj

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