30.6.15

ESTE TEMPO


Perigoso este tempo de cardos e chacais. 
Tempo de  mendigos e assassinos.
Tempo seco e azedo que não alimenta, 
não cuida, não cria. 
De aves tombadas pelo caçador.
De cães abandonados pelo caçador. 
Da gula dos abutres, do escárnio das hienas. 
É este o tempo de partir ou ficar, 
de perder ou ganhar, 
de vergar ou erguer, 
de se dar ou se vender. 
Tempo sem penumbra, 
sem copo meio. 
É aviso, é anúncio, 
mas os surdos não ouvem, 
os cegos não vêem. 
É pegar ou largar 
neste tempo tão longo, tão breve, 
tão audaz e tão néscio. 
Outro tempo haverá. 
Pode ser amanhã, 
pode ser nunca mais. 
A gaveta do mel, a gaveta do fel. 
Qual abriremos, qual?

Licínia Quitério

2 comentários:

Graça Pires disse...

Um poema muito intenso, Licínia, bem a propósito dos tempos que vivemos.
Um beijo, amiga.

Manuel Veiga disse...

"tempo de partir ou ficar..."

tempo de ousadia também...

em carne viva - teu poema.

beijo, Amiga

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