É sempre tempo de falar de um Abril que aconteceu, de remoer um Abril que se não deu.
Em Abril renascemos. Respirámos tão fundo que à nossa volta estremeceu o mundo.
Assim fizemos nós, os já cansados, os sofridos, os ansiosos pela luz tardia no brilhar.
Assim falo eu dos que Abril aguardaram em silêncios redondos de medo e solidão. Dos que mais longe foram e rasgaram o escuro e por isso pagaram com o corpo e o coração.
Depois de Abril nasceram. Não trouxeram consigo a memória das sombras. Não precisaram de aprender da Liberdade o nome, porque ela os inundou como se seiva fora, primordial e imensa.
Assim falo eu dos que souberam pelos pais e os pais dos pais que um outro mundo houvera em que o Adamastor impedira a dobragem do Cabo das Tormentas que em Esperança se tornou para lá dos temporais.
Outros irão nascer, netos dos netos a haver. A pouco e pouco Abril se irá esbatendo, a lembrança dos homens esmorecendo. Mas Abril ainda aqui está e aos fantasmas do ontem que por aí assomam, de sorriso rasgado, mas com o olhar gelado, aos novos comedores do sangue da manada, aos velhos fazedores do mito e da traição, hoje diremos, com o queixo levantado, do nosso amigo segurando a mão, a palpitar, festivo, o coração:
ABRIL NOS DEU A HORA E NADA FOI EM VÃO!
ABRIL NOS DEU A HORA E NADA FOI EM VÃO!
Licínia Quitério
5 comentários:
espero que eu meu filho um dia saiba, pelos pais, avós e tios, como custou a liberdade...
gostei de te ler!
"...Depois de Abril nasceram. Não trouxeram consigo a memória das sombras. Não precisaram de aprender da Liberdade o nome, porque ela os inundou como se seiva fora, primordial e imensa."
Gostei! E, assim se cumpre Abril!
Um abraço solidário ;)
Um dos melhores textos que li, nos últimos tempos acerca do 25 de Abril.
Não vivamos no passado. Cumpra-se o futuro...
Um abraço solidário ;)
Que belo texto. Mtos sinceros parabéns. É bom ver ainda vivo Abril em tantos de nós que lutámos pela liberdade, ainda por cima dp de ter sido vítima de um acto de censura, irónicamente a 24 de Abril. Será que eles andam por aí a tentar rebentar com a nossa tão querida e presente liberdade de pensar e existir?
Um abraço amigo
Teresa David
Tantos poemas de Abril e sobre Abril. Este junta a alegria, a gratidão, a luta, a desilusão e, por fim, a esperança. Para mim, um dos melhores textos sobre Abril ( o outro é de Sophia).
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