Toulouse-Lautrec - Au Salon de la Rue des Moulins
AS PUTAS DA AVENIDA
Eu vi gelar as putas da Avenida
ao griso de Janeiro e tive pena
do que elas chamam em jargão a vida
com um requebro triste de açucena
vi-as às duas e às três falando
como se fala antes de entrar em cena
o gesto já compondo à voz de mando
do director fatal que lhes ordena
essa pose de flor recém-cortada
que para as mais batidas não é nada
senão fingirem lírios da Lorena
mas a todas o griso ia aturdindo
e eu que do trabalho tinha vindo
calçando as luvas senti tanta pena
FERNANDO ASSIS PACHECO
Lembras-te do barquinho de papel? Sim, de papel de jornal. Sempre foste muito exacto. Na vela podia ler-se: "Vende-se cachorro". Foi por causa do peso do cachorro que o barquinho adornou. Não, não foi o vento. No vale, o ar estava imóvel. Por isso o charco sem ondas. Foi o meu olhar que empurrou o barco. Se o cachorro se afogou? Não. Saltou a tempo para o ramo do salgueiro. Tu não viste. Estavas tão entretido a matar formigas. Ontem vi o barquinho aos pés da nossa cama. De vela panda. Não ouviste ladrar? Estavas a dormir, eu sei. Já não te interessas por formigas. Eu ainda gosto dos cachorros escritos nos barcos. Até amanhã.
Licínia Quitério
13 comentários:
Olá Licínia e Parabéns!
Pela escolha (poema e imagem)
pela sua prosa poética, lindíssima.
Obrigada ainda pela sua visita ao meu Blog.
Voltarei, pode crer...
Fiquie fã.
Beijo
Maria Mamede
Também gostei mais do texto. Ainda que lhe tivesse encontrado um gosto levemente amargo.
O do poema é totalmente amargo.
Beijos
Belos textos.
Beijinhos
Fernando Assis Pacheco, Presente!
o texto é de uma delicadeza tão íntima, que não me atrevo a pertubar, com um ligeiro (e deslocado)comentário...
querida licínia,
espero-a bem e harmoniosa e linda
este post é de uma subtileza tão doce e fina que arrepia, adorei
mas ninguém pediu a minha opinião!
desejo-lhe um bom fim de semana
que o balão de são joão voe no seu coração
agradeço as suas visitas e palavras
um grande, grande beijinho,
alice
Um bonito poema, que aborda um tema 'perturbante' para os pudicos (as) deste país e onde nunca se cita porque é que existem, nunca se diz que se não houvesse clientes a situação não acontecia.
Fica bem.
Beijinhos.
Manuel
SE EXISTEM É PORQUE TÊM CLIENTELA E NÃO SÓ...
HÁ UNS ANOS PUBLICOU-SE NUMA REVISTA UM ARTIGO SOBRE VIDAS DUPLAS.
UMA PSICÓLOGA SUPOSTAMENTE BEM CASADA COM UM EMPRESÁRIO DE BOA SITUAÇÃO, QUE DIZIA ELA AMAVA O SEU MARIDO...
TINHA DIAS EM QUE IA A CASA MUDAR DE ESTILO , DE ROUPAGENS E DE VISUAL E IA PARA A ZONA DA TORRE DE BELÉM, ARMADA EM PROSTITUTA; SÓ "ATENDIA" CARROS DE ALTA CILINDDRADA , BOAS MARCAS PORQUE , PORQUE LHE DAVA OUTROS TONS À VIDA, MAIS ADRENALINA E MAIS NÃO SEI O QUÊ, NÃO SEI SE CALÇAVA LUVAS OU MEIAS DE RENDA OU SE POUSAVA NUA...
UM DIA O MARIDO DESCOBRIU-A, TALVEZ ANDASSE NOS MESMOS MEANDROS, QUEM SABE.
O CASAMENTO ACABOU-SE, COM GRANDE PENA DELA!
UMAS EXISTEM PORQUE TÊM CLIENTELA; OUTRAS PORQUE GOSTAM DE O SER...
obrigada pelas delicadas palavras deixadas em meu blog...
beijos
Um poema sobre uma triste realidade. O texto é de uma íntima delicadeza absolutamente extraordinária.
Beijinhos
http://mulher50a60.weblog.com.pt
Fiquei amarga ao ler o poema...Tema que mexe com as mulheres, decerto.
Mas o teu texto ainda me deixou mais.
Bjinho
Deixei-te aqui um comment que apaguei porque a referência que fiz ao autor do poema que editaste neste post nada tinha a ver com esse mesmo autor mas sim com outro.
Do meu lapso peço desculpa.
Isso não invalida porém que a minha opinião sobre o poema própriamente dito, se mantenha; escrever sobre as duras realidades da vida, incomoda . Mas se assim não se fizer, como havemos de distinguir o paraíso do inferno?
... e que a tua prosa, faz uma óptima companhia a tal poema.
beijos.
... já agora -porque não?, o o outro autor era Luiz Pacheco; de vida bem diversa da de Assis...
Meu Deus que saudades! tuas, do "matador de formigas" e até minhas!
parabéns amiga...
Filipa Gonçalves
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