"LES TROIS ARTS" - óleo sobre tela de JÚLIA CALÇADA
Só podia ser a sépia, respondia. O que a pintora queria mesmo é que fosse um quadro branco que desse a ler o cansaço. Tentou, mas sem êxito. Não encontrou leitor. Só a tal bailarina o entenderia. A tal, a que dançou voando sobre os sons que recusavam o silêncio. Talvez tenha tocado em pontas o chão sublime de sons inaudíveis. Quanto tempo dançou? Dizia: Sempre. Como quem assina o próprio nome. Não podia parar o diálogo com o pianista, o que conhecera tocando uma melodia que nunca ouvira. Construída de lamentos de ervas pisadas e de risos de malmequeres ao sol. A música tecia-lhe as vestes e o piano tocava sozinho se as mãos dele vinham guiar-lhe a cintura. Quando a música parou e as mãos se esfumaram, um cansaço branco, muito branco, a envolveu. Deitou-se sobre o piano, o cetim das sapatilhas no teclado a desenhar um acorde extravagante. Ela entenderia a brancura do quadro. Mais ninguém.
Esta a minha resposta a um desafio de uma rosa sem espinhos chamada Maria.
LICÍNIA QUITÉRIO
17 comentários:
Está muito bonito, Licínia.
Poético! E transversal o conceito de silêncio...
(lendo, claro, o que por lá escrevi...)
Abraço!
Muito origian a continuação...
bjs Zita
uma boa resposta, licínia, para um bonito desafio da maria. assim é a verdadeira blogosfera. onde todos partilham as palavras, as imagens, a criatividade. gostei muito de ler e deixo um grande beijinho *
Belíssima, essa noção de cansaço branco. De uma poesia extrema.
Beijos
Está... como só poderia estar. Não sei se o texto foi escrito para o quadro se o quadro pintado para o texto.
Belíssima a ideia da Maria.
um cansaço branco que é, também, ausência.
a arte de entender,como tu muito bem escreves, as histórias que uma tela branca pode contar.
abraço grande
...espera
o reconheciMento
do branco
em silêncio.
Pois. Mas uma rosa sem espinhos será rosa?
Boa noite.
a metamorfose da pintura em dança.ou será o contrário? aquela nota de piano em fundo azul, certamente. apesar da sépia.
gostei mto.
Diria que a simbiose não surge por acaso! Da arte da pintura à arte escrita dista uma fio ligeiro a separá-las.
A harmonia dá as mãos e faz a música soar serena nas pontas da dançarina, nas teclas brancas dum piano...
Porque adorei, não sei o que realçar: se o óleo sobre a tela, se as palavras a vibrarem num texto a condizer!...
Por vezes tens esse efeito em mim, querida Licínia... as tuas palavras deixam-me sem palavras.
Vou apenas agradecer-te o facto de teres participado no desafio e, mais uma vez, da única forma que te conheço, sublime na escrita, (como no convívio, suponho. Esta última apenas posso adivinhar, mas estou certa de que assim é!).
Unm beijo grato e terno.
Não sei de qual gosto mais: se da tela de Júlia Calçada, se da que acabei de ler. Sao ambas lindíssimas!
Beijinho
a noite ao cair envolve tudo e os sonhos acariciam o meu corpo de cetim.
Beijinhos embrulhados em abraços
e respondeste adequadamente.
Muito bem, Licínia!
Bjs
No sonho me embriago com as suas palavras.
Beijinhos embrulhados em abraços
Fui ver as telas...
Encantei-me e achei o desafio engraçado!
Texto e imagem perfeitos.
Bjinho
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