Eram meninas e brincavam.
Inventavam a floresta
e ela acontecia.
Escondiam-se e um manto
de asas de anjo as encobria.
A noite era um sítio longe
e o dia brotava-lhes das mãos.
Escutavam as árvores,
o namoro das copas.
As meninas tinham caixas
de guardar segredos
com chaves pequeninas,
invisíveis.
Nelas dormiam os cavalinhos brancos
de galopar, de galopar.
As meninas apressam-se a crescer.
Apagam as florestas antes que a noite chegue.
Já não se escondem, as meninas.
Souberam que não há anjos sem asas.
Deitaram fora as caixas dos segredos.
Foram-se embora os cavalinhos,
a galopar, a galopar.
Estão tão grandes as meninas.
Pequeninas ficaram as chaves
invisíveis,
para que o vento as leve
mundo fora, a voar, a voar.
Foram meninas e brincaram...
Licínia Quitério
16 comentários:
Linda fábula das meninas. Uma atmosfera de sonho, de pureza. Ficou um poema sugestivo. Faz ver o sítio - com algo de mágico.
Abraços.
A lei da vida neste poema, ou parte dela.
Eu ainda guardo as caixas dos segredos...
Um beijo, Licínia.
Da ternura. Da poesia. Gostei. Muito.
É muito belo
seu poema
e...
dá que pensar!
Saudades das meninas?
... ou das caixas de segredos?!
(Talvez dos cavalos brancos
a galopar... a galopar...)
"Foram meninas e brincaram"!
Beijinho
Gostei mesmo muito, Lic+inia.Beijo
Por vezes, as meninas ficam meninas a vida toda. Guardam as suas asas da infãncia e voam. Através das palavras e dos sonhos!
Um beijo, amiga Licínia *
A atmosfera onírica da infância, que a vida nos vai roubando.
Mas dito de um modo tão belo, amiga poetisa:))
continuam a gusrdar as chaves do sonho. as (tuas) meninas...
muito belo
beijo
Mágico este cenário...
Uma pena as meninas terem crescido!
L.B.
... e a pressa que se tem em crescer?
E depois não há maneira de voltar atrás. Apenas assim, como tu fizeste aqui.
Beijos e sorrisos.
Belo o poema.
Belos aqueles tempos de menina que vão e não voltam mais.
Ficam as recordações...
As meninas continuarão a sonhar com os cavalinhos brancos...
Um poema cheio de magia e encanto.
Um beijo, Licínia.
Que poema bonito...e ternurento
As meninas que brincaram e cresceram com os cavalinhos brancos que foram embora galopando...galopando...numa floresta inventada.
Um beijinho amigo
Nostálgico, minha cara. Muito nostálgico. E a menina que ainda há em ti?
eram meninas e brincavam, na invenção da flores, a descoberta do ser e o regresso à infância na magia de um poema.
sabe Licínia, em tempo idos, há uns séculos atrás, tive também uma amiga com o seu nome e "éramos meninas e brincávamos" e hoje em dia, o tempo pegou nos ramos das florestas e tenta apagar os caminhos que partilhámos. e nós teimamos em os reavivar. a amizade é um bem precioso, como este seu poema e tantos outros que, lendo, não comento.
fica um beijo, muito grata pela partilha.
Mel
Para contar às crianças, que elas entendem estas histórias de um modo muito especial.
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