26.5.11
20.5.11
Estou presa
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Licínia Quitério
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11:39:00 da tarde
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14.5.11
SOU POBRE
Sou pobre. Fui sempre pobre. Serei pobre.
Tenho tudo o que quero. Tive tudo o que quis.
O brilho do ouro incomoda-me. Tenho o sol.
Gosto das peles dos animais enquanto vivos.
Não tenho nada. Não quero ter nada. Tudo é meu.
Tenho os quadros nos museus. Tenho o colar de Nefertite.
Tenho tudo o que as montras me oferecem.
Tenho a relva em que caminho.
Tenho as florestas que conheço e as que inventei.
Tenho todos os países do mundo e poucos visitei.
Tenho a música que compuseram para mim.
Tenho os versos de todos os poetas.
Tenho a amizade que dou e o amor que vivo.
Tenho os olhos de esmeralda da minha gata.
Tenho uma casa do meu tamanho e nela acolho
os pobres e os ricos mais pobres deste mundo.
Não sou dona. Nunca fui dona. Não serei.
Tenho o mar e a maresia.
Sou o que não tenho.
Licínia Quitério
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Licínia Quitério
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10:10:00 da manhã
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8.5.11
AS MULHERES
Passaram por mim. As mulheres.
Tinham cantos presos ao pescoço
e respirações de cavalos em fuga.
As mulheres. Quando rezavam
fechavam nos braços os filhos
por nascer. As mulheres. Resistiam
aos invasores com a brancura
do corpo inviolável. As mulheres.
Matavam-se para não morrerem
de vergonha. As mulheres. Dançavam
nas bodas com sangue nos cabelos.
As mulheres. Oferendas traziam
contra a ira antiquíssima dos deuses.
As mulheres. Electra. Antígona. Hécuba.
Bernarda. Adela. Yerma. As mulheres.
As cidades sempre ardem. Os homens
sempre se apunhalam. Os filhos nascem
e morrem. Há luas várias de presságios
vários. As mulheres amam e não há guerra
que as detenha no seu destino de fontes.
Joana, Helena, Isabel, Teresa, Amélia.
Um desfile imparável de subterrâneas
tragédias.
As mulheres.
Licínia Quitério
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Licínia Quitério
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9:41:00 da tarde
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3.5.11
TREPADEIRAS
As plantas esperam que os olhos das casas se fechem.
As casas sabem que um dia os animais as deixarão
e também a cal se cansará das pedras.
A solidão das casas é oblíqua, assimétrica,
um registo incongruente de gargalhadas e silêncios.
As pedras sentem o germinar das sementes
na fundura morna das soleiras.
São elas, as sementes, as madres poderosas
das trepadeiras. São as trepadeiras a nova pele,
o abraço, o manto fresco e colorido,
o futuro das casas para além dos seus olhos fechados.
Licínia Quitério
Foto cedida por uma Amiga
As casas sabem que um dia os animais as deixarão
e também a cal se cansará das pedras.
A solidão das casas é oblíqua, assimétrica,
um registo incongruente de gargalhadas e silêncios.
As pedras sentem o germinar das sementes
na fundura morna das soleiras.
São elas, as sementes, as madres poderosas
das trepadeiras. São as trepadeiras a nova pele,
o abraço, o manto fresco e colorido,
o futuro das casas para além dos seus olhos fechados.
Licínia Quitério
Foto cedida por uma Amiga
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Licínia Quitério
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10:14:00 da tarde
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2.5.11
PONTO
lagos crianças descalças.
Estão nos vasos nos jardins nos compêndios
de botânica nos cemitérios. Ponto.
Não são a alegria das noivas a sabedoria
dos jardineiros a dor dos sobrevivos.
São brancas azuis verdes vermelhas amarelas. Ponto.
Não são a candura o céu a floresta
o cio o ciúme.
São minúsculas medianas grandes enormes
extraordinariamente grandes. Ponto.
Não são o grão de talco o saber dos tolos
o amor amado o desejo de voar
o desejo de ser deus.
Vivem sós em cachos em espigas
em chapéus numa só cabeça em chapéus
em cabeças diferentes. Ponto.
Não são a solidão o grupo a cidade
a multidão acéfala a multidão em festa.
São duradouras breves efémeras. Ponto.
Não são a força das mães o amor de verão
a fama dos heróis.
São um pretexto para dar espessura ao texto. Ponto.
Não são letras sílabas palavras.
São flores assim ditas no começo.
Ponto por ponto.
Licínia Quitério
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Licínia Quitério
às
4:47:00 da tarde
6
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1.5.11
MAIO
Um vídeo com todas as imperfeições de um trabalho de artesã de ocasião. Não o quero refazer. É assim, espontâneo, informal, oferecido como foi o meu, o nosso, Maio de 74. Este é o registo que me deixou na memória e no coração. Hoje o Maio é outro, com muito negro a sujar o vermelho, mas novas águas hão-de vir para lavar da lama as ruas do Maio da Alegria.
Licínia Quitério
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Licínia Quitério
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9:15:00 da manhã
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